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Entenda a importância da embaixada brasileira nos EUA


Publicado em: 14 de julho de 2019


 

Poder econômico norte-americano e tamanho da comunidade brasileira nos EUA tornam o cargo um dos mais visados pelos diplomatas de carreira. Veja quem já ocupou o posto.

 

A possível nomeação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) – filho do presidente Jair Bolsonaro – quebra uma tradição do Itamaraty em selecionar somente diplomatas de carreira e de longa experiência para ocupar a embaixada do Brasil em Washington.

Professores  apontaram por que a embaixada brasileira nos Estados Unidos é considerada uma das mais estratégicas para o Itamaraty:

 

Tradição diplomática de Brasil e EUA

 

Brasil e Estados Unidos têm relações diplomáticas desde 1824, quando o governo norte-americano reconheceu a independência. Naquele ano, o imperador D. Pedro I indicou José Silvestre Rabello para o cargo de “encarregado de negócios” em Washington.

Somente em 1905, no governo do presidente Rodrigues Alves, a representação brasileira nos EUA foi elevada à categoria de embaixada – a primeira no mundo. O primeiro a ocupar o cargo foi Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo. Desde então, 30 homens ocuparam o cargo (veja aqui a lista completa).

 

Os professores ouvidos pelo G1 explicam que as relações entre os dois países costumam ser amistosas. Nem mesmo estranhamentos no governo militar de Ernesto Geisel (1974-1979) – devido a denúncias sobre violações de direitos humanos no Brasil – ou na presidência de Dilma Rousseff (2011-2016) – após uma crise relacionada a espionagem – minaram a amizade entre Washington e Brasília.

“O histórico das relações entre Brasil e EUA variavam de amistosas a muito próximas. A rigor, o governo brasileiro não era considerado ‘aliado’ pela Casa Branca, mas o país participou da Segunda Guerra, por exemplo, ao lado dos norte-americanos”, explicou Tomaz Paoliello, professor de relações internacionais da PUC/SP.

 

O bom relacionamento e a importância do EUA nos cenários político e econômico levam o Itamaraty a, historicamente, selecionar os diplomatas mais graduados ao cargo de embaixador brasileiro em Washington. É o que explica Carlos Gustavo Poggio, coordenador do Núcleo de Estudos de Política Externa dos EUA (Nepeu).

“É uma relação entre estados, não entre governos ou indivíduos. Cabe ao embaixador estabelecer rede de contatos em Washington que inclui até políticos de oposição”, ilustra Poggio.

 

Tamanha importância da embaixada em Washington leva diversos diplomatas a considerarem o cargo de embaixador nos EUA como um dos mais importantes na carreira – junto aos de ministro das Relações Exteriores e secretário-geral. “Tradicionalmente, todos têm de estar altamente qualificados”, afirma Juliano Cortinhas, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

“A voz do Brasil nos EUA é a voz do embaixador”, diz Cortinhas.

Poder econômico e militar

 

Os Estados Unidos têm a maior economia do mundo e estão à frente do poder militar mundial em diversas áreas – inclusive tecnologia. Até poucos anos atrás, os EUA representavam o maior parceiro comercial do Brasil. Hoje, a China detém esse posto.

Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador do Brasil em países como China, Japão e Paraguai, destaca a importância da proximidade com órgãos multilaterais nos EUA. Ele cita as sedes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ambas em Washington.

“E tem a cidade de Nova York, maior capital financeira. Então, o embaixador do Brasil nos EUA é o interlocutor do mundo oficial e privado. Isso é fundamental”, acrescenta Neves.

Além dos organismos internacionais, o embaixador precisa ter acesso ao establishment político dos Estados Unidos – ao próprio presidente, ao secretário do Tesouro, por exemplo.

“É preciso também ter bom trânsito no Brasil, ter capacidade de pegar o telefone e falar com o ministro da Economia”, exemplifica Neves.

Até pela importância da questão econômica, o professor Tomaz Paioliello pondera que a diplomacia tradicional tem perdido espaço nas negociações econômicas para ocupantes de cargo técnicos.

“Devido ao peso econômico, grande parte das relações entre Brasil e EUA estão nas mãos do [ministro da Economia] Paulo Guedes”, afirmou.

Recentemente, a aproximação entre os governos acelerou a inclusão do Brasil na lista de aliados prioritários extra-Otan pelo governo de Donald Trump – decisão anunciada na visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca.

Na prática, a medida significa que o país terá prioridade na compra de equipamentos e tecnologia militares norte-americanos e poderá, inclusive, participar de treinamentos.