Publicado em: 14 de agosto de 2019
Banco Central injetou US$ 105 milhões no mercado financeiro; peso argentino fechou em queda de 15,27% e bolsa recuou 37,01%.
A derrota de Maurício Macri nas eleições primárias da Argentina levou pânico ao mercado financeiro do país. Nesta segunda-feira (12), o peso argentino fechou em queda de 15,27%, cotado a 53,5 pesos por dólar – no pior momento do dia, chegou a valer 65 pesos por dólar. A bolsa de valores recuou 37,93%.
Na leitura dos investidores, a derrota do presidente Macri coloca em risco a agenda de reformas da Argentina. Vencedor das primárias, o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández é visto como menos comprometido com os ajustes econômicos.
A queda da bolsa nesta segunda foi puxada pelo setor financeiro e energético. Segundo a agência Reuters, o mercado financeiro registrou uma a pior sessão desde a crise econômica de 2001.
De acordo com o chefe global de estratégia cambial da Brown Brothers Harriman, Win Thin, para questões de negociações globais o mercado de peso não tem um impacto mensurável. Ele não espera um contágio em mercados emergentes.
“É um mercado muito pequeno”, disse Thin para a agência Reuters. “Desde que Macri reabriu os mercados, adotou algumas medidas pró-mercado, tem havido pouca atividade no peso e ativos argentinos em geral”, completou.
A Argentina enfrenta um quadro bastante complicado na economia. O país está em recessão, tem uma inflação elevada e teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para tentar evitar a fuga de investidores do país, o Banco Central da Argentina subiu a taxa de juros paga pelas notas do Tesouro de sete dias – conhecidas como Letras de Liquidez (Leliq) e que serve de referência para política monetária do país – 10 pontos percentuais, para cerca 74%, maior patamar desde 9 de maio, segundo a Reuters.
O BC argentino também teve de vender parte das suas reservas pela primeira vez desde setembro de 2018. Ao todo, segundo o jornal Clarín, injetou US$ 105 milhões no mercado.
O risco país da Argentina superou os 900 pontos.
Centro-esquerda vence a eleição
O peronista de centro-esquerda Alberto Fernández obteve ampla vantagem sobre o presidente liberal Mauricio Macri nas eleições primárias para a presidência do país. Com 99,37% das urnas apuradas, Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice, teve 47,66% dos votos, e Macri 32,08%. Roberto Lavagna aparece em 3º lugar com 8,23% dos votos.
Chapa de Cristina Kirchner vence eleições primárias na Argentina
“A diferença do resultado foi muito maior do que podíamos supor. Pelos números da economia, era mais provável que a oposição ganhasse, mas havia outros aspetos que beneficiavam o governo como transparência e combate à corrupção, mas isso não aconteceu”, explicou à RFI a Mariel Fornoni, diretora da Management & Fit, empresa especializada em opinião pública.
“Esta segunda-feira será um dia muito complicado nos mercados. O grande risco é que haja uma forte corrida cambial durante este período eleitoral”, avaliou o analista político Sergio Berensztein.
A Argentina está em recessão com inflação de mais de 55% depois de mais mais de três anos de políticas de Macri. Entretanto, os investidores veem a dupla Fernández/Kirchner como uma perspectiva mais arriscada do que o pró-mercado Macri devido às políticas intervencionistas prévias da oposição.
“Cristina Kirchner governou entre 2007 e 2015 e adotou um modelo econômico que praticamente afundou a economia para a crise que ainda se encontra, nacionalizando empresas, manipulando dados oficiais e provocando repulsa aos investidores”, destacou a Rico Investimentos em relatório a clientes.