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Racismo no Governo


Publicado em: 8 de dezembro de 2019


 

Nomeação para Fundação Cultural Palmares expõe descaso do governo importantes áreas; juiz suspendeu indicação

Nomeação suspensa , o juiz Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, suspendeu a nomeação de Sérgio Camargo Sampaio. O magistrado entendeu que a postura dele não é compatível com o posto. Lei “Caó” e racismo A negação da existência do racismo, em si, já é uma afronta à legislação vigente no Brasil. Lei “Caó”, que combate a prática, completou trinta anos em 2019. Política RACISMO DO GOVERNO Nomeação para Fundação Cultural Palmares expõe descaso do governo importantes áreas; juiz suspendeu indicação

Alçado ao posto de comandante da Fundação Cultural Palmares no último dia 27, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo deixou estarrecido parte do Brasil e do movimento Negro com as declarações que fez em redes sociais. Entre outras (tantas) coisas, ele acredita que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”, pois no Brasil negros vivem melhor que os da África. Após uma série de absurdos, o juiz Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, acatou a Ação Popular proposta contra a decisão do governo Jair Bolsonaro de nomeá- -lo para o posto.

Para Camargo, o Dia da Consciência Negra tem que acabar. As falas de Camargo vão de encontro a toda luta do movimento negro, que entre tantas vitórias, conseguiu, na Constituinte, estabelecer a Lei Caó, que tipifica petreamente o crime de racismo, com pena prevista de até cinco anos de reclusão. Sociólogo baiano, Muniz Sodré classificou a atitutde do novo chefe da Palmares como “crime”. “Mas as forças de resistência a isso estão aí”, lembra.

Chefe de Camargo na Palmares, o dramaturgo Roberto Alvim também é afeito a polêmicas. Recentemente atacou a grande atriz Fernanda Montenegro e a chamou de “sórdida”. Responsável pelas duas nomeações, o presidente da República, Jair Bolsonaro afirmou que não conhecia Sergio Camargo, mas afirmou que os quadros do seu governo representam o pensamento do Brasil. “O secretário é um tal de Roberto Alvim, dei carta branca para ele”.

 

Por Alexandre Galvão

 

 

HISTORIADORA ALERTA PARA “APATIA”

Dentre as muitas reações contra as falas de Camargo, está a posição da historiadora e escritora Lilia Moritz Schwarcz. Segundo ela, desde a nomeação de Roberto Alvim para a Funarte, este é o caso mais gritante do governo. “Na democracia, temos que conviver com a diferença. Mas o problema é que ele faz declarações do tipo que tem ‘nojo’ do ativismo, que os africanos ‘se beneficiaram muito com a escravidão’, que ele é contrário às ‘ações ações afirmativas’. É a pessoa no lugar errado. Parece uma provocação”, conta, em entrevista à Rádio Metrópole. Questionada por Mário Kertész sobre a falta de uma movimentação da sociedade civil para combater essas ações destrutivas, a historiadora afirmou que esta “apatia” pode custar caro aos brasileiros. Irmão do chefe da Funarte, o músico e produtor cultural Oswaldo de Camargo Filho criticou as posições do chefe da Fundação Palmares. “Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato”, declarou. Wadico, como é mais conhecido, ainda divulgou um abaixo-assinado para que seu irmão saia do cargo pelo qual foi nomeado.