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Líder Supremo do Irã promete vingança após assassinato do general pelos EUA


Publicado em: 4 de janeiro de 2020


 

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu nesta sexta-feira uma “vingança implacável” após o assassinato em um bombardeio americano do general iraniano Qassem Soleimani, comandante das Forças Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã. Khamenei decretou três dias de luto nacional pela morte de Soleimani, de 62 anos, que dirigia as Forças Quds desde os anos 1990 e era responsável pela coordenação das forças aliadas do Irã em países como Síria e Iraque.

— O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos. Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires — afirmou o aiatolá Khamenei em sua conta no Twitter.

Além de Soleimani, o ataque com mísseis que atingiu dois carros que deixavam o aeroporto de Bagdá no início da madrugada desta sexta-feira matou também o número dois das Forças de Mobilização Popular (FMP), o comandante iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis. As FMP são uma coalizão de grupos xiitas criados para combater o Estado Islâmico no Iraque e que foram posteriormente incorporadas às forças de segurança do país.

Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã e de outras cidades do Irã para homenagear Soleimani. Depois da fala de Khamenei, o Conselho de Segurança Nacional do Irã divulgou um comunicado em que afirma que os EUA “serão responsáveis pelas consequências” do  assassinato, que será retaliado “no momento e local apropriados”. “A América deve saber que esse foi o seu maior erro estratégico” na região, disse a nota do conselho.

— O assassinato direto de Soleimani pelos Estados Unidos é um desafio nu e cru e o Irã terá que responder com uma grande ação para salvar sua face — disse à Reuters Mohanad Hage Ali, do Centro Carnegie em Beirute.

O governo do Iraque também reagiu com indignação ao assassinato, ordenado pelo presidente americano Donald Trump. O presidente Barham Salih, que é curdo, condenou o ataque aéreo “ilegal” dos Estados Unidos, mas pediu moderação a todas as partes. Em nota, Salih disse que o país deve pôr “seu interesse nacional em primeiro lugar e evitar as tragédias de um conflito armado que afeta o país ao longo de quatro décadas”.

Além dele, o premier iraquiano, Adel Abdul Mahdi, um xiita, repudiou as mortes, que classificou como “uma violação das condições da presença militar dos EUA” no país e um “ato de agressão que desrespeitou a soberania” iraquiana. Ele disse que os assassinatos levarão a uma guerra no Iraque, na região e no mundo. Mahdi convocou uma sessão extraordinária do Parlamento.

O poderoso clérigo xiita Muqtada al-Sadr, que controla uma das maiores bancadas parlamentares, anunciou a reativação de sua milícia, o Exército Mahdi, para combater os Estados Unidos, que ainda mantêm 5 mil militares no Iraque, sob o acordo em que combateram o Estado Islâmico a partir de 2014.

Escalada da tensão

O ataque americano aconteceu três dias depois que manifestantes pró-Irã e integrantes das FMP tentaram invadir a Embaixada dos Estados em Teerã, em um protesto contra bombardeios americanos que no domingo mataram 25 integrantes de uma de suas milícias, a Kataib Hezbollah. Os bombardeios, segundo Washington, ocorreram em represália a um ataque do grupo que matou um funcionário terceirizado em uma base dos EUA na cidade iraquiana de Kirkuk.

As tensões entre Washington e Teerã aumentaram no último ano, depois que o governo Trump se retirou unilateralmente em 2018 do acordo nuclear assinado entre o Irã e as principais potências globais em 2015. Ao retomar as sanções econômicas contra Teerã, os EUA impuseram ao país persa um prejuízo de US$ 200 bilhões em exportações e investimentos perdidos, disse nesta semana o presidente iraniano, Hassan Rouhani.

A influência do Irã no Iraque aumentou após a derrubada de Saddam Hussein, um sunita, na invasão americana de 2003, que levou ao poder representantes da maioria xiita iraquiana. A maioria da população iraniana também pertence a esse ramo do islamismo. Até agora, o governo iraquiano vinha tentando se equilibrar entre os interesses opostos de seus dois principais aliados, mas o ataque americano ao Kataib Hezbollah e agora o assassinato de Soleimani e do vice-comandante das FMP obrigam o país a escolher um lado.

Substituto

Em Teerã, o aiatolá Ali Khamenei nomeou o vice de Soleimani, general Esmail Ghaani, para substituí-lo como chefe das Forças Quds. Segundo o líder supremo, o programa da força “permanecerá inalterado em relação ao período de seu antecessor”.

A morte fez com que o presidente iraniano Hassan Rouhani também prometesse vingança:

— Não há nenhuma dúvida sobre o fato de que a grande nação do Irã e as outras nações livres da região se vingarão deste horrível crime dos Estados Unidos — declarou Rouhani em um comunicado. — O martírio do general Soleimani encheu de luto o coração da nação iraniana e de todas as nações da região.

Rouhani ressaltou que o assassinato “redobrou a determinação da nação iraniana e de outras nações livres da região de enfrentar a intimidação da América e defender os valores islâmicos”.

— Esse ato vil e covarde é outro sinal do desespero e fraqueza dos Estados Unidos na região — afirmou.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, chamou o assassinato de “terrorismo” e convocou um representante da embaixada da Suíça, que representa os interesses americanos em Teerã na ausência de laços diplomáticos entre os Estados Unidos e o Irã.

— O ato de terrorismo internacional dos Estados Unidos, visando e assassinando o general Soleimani, é uma escalada extremamente perigosa e imprudente — escreveu ele no Twitter.— Os Estados Unidos sofrerão todas as consequências de seu aventureirismo desonesto — acrescentou.

A Chancelaria iraniana garantiu que “usaria todos os meios legais e sua capacidade internacional para fazer cumprir as decisões do Supremo Conselho de Segurança Nacional de responsabilizar o regime terrorista e assassino dos EUA por essa atrocidade”.

A Guarda Revolucionária também pediu vingança:

— A breve alegria dos americanos e dos sionistas se transformará em luto — disse o porta-voz da Guarda, Ramezan Sharif, à TV estatal. — O ato fortaleceu nossa determinação de nos vingar da América assassina e dos opressores sionistas e isso certamente acontecerá — acrescentou, antes de cair em prantos.

“Soleimani se juntou aos nossos irmãos martirizados, mas nossa vingança contra a América será terrível”, reagiu Mohsen Rezai, ex-chefe da Guarda Revolucionária, no Twitter.