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Barra Torres abriu a segunda semana de depoimentos à CPI da Covid-19


Por: Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Publicado em: 12 de maio de 2021


Presidente da Anvisa afirmou ser contra ‘qualquer tipo de aglomeração’, defendeu campanha nacional de imunização e disse que proposta sobre uso do medicamento foi feita pela doutora Nise Yamaguchi

 

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, se distanciou da postura adotada pelo presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus e confirmou a realização de uma reunião, no Palácio do Planalto, na qual se discutiu a alteração da bula da cloroquina, a fim de que o medicamento fosse indicado para o tratamento da doença. De acordo com o depoente, a mudança do bulário foi defendida por Nise Yamaguchi, médica oncologista que já foi cotada para assumir o Ministério da Saúde.

Na última semana, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que a proposta para a mudança da bula da cloroquina foi vetada por Barra Torres. “Me recordo [dessa reunião no Palácio]. Confirmo que estávamos o Braga Netto, da Casa Civil, o ministro Mandetta, eu, a doutora Nise Yamaguchi e um médico do qual não me recordo o nome. Esse documento [minuta de decreto presidencial que previa a mudança da bula] foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação, confesso, um pouco deselegante. A minha reação foi muito imediata, de dizer que aquilo não poderia ocorrer. Só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, desde que solicitado pelo detentor do registro”, disse. “Quando houve uma proposta de uma pessoa física fazer isso, me causou uma reação brusca”, acrescentou. Ainda sobre a reunião, Barra Torres disse que o encontro foi convocado pelo então ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, atual ministro da Defesa.

Questionado ao longo de sua oitiva sobre declarações do presidente Jair Bolsonaro contra a vacinação e ocasiões em que promoveu aglomerações e não utilizou máscaras, Barra Torres fez questão de se distanciar do chefe do Executivo federal. No início da tarde, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) perguntou ao diretor-presidente da Anvisa sobre o passeio de moto de Bolsonaro no domingo do Dia das Mães. “Sou contra qualquer tipo de aglomeração. Não concordo. Qualquer coisa que fale de aglomeração, não usar álcool, não usar máscara e negar a vacina, são coisas que não têm nenhum sentido do ponto de vista sanitário”, respondeu. A resposta de Torres gerou reação do senador Humberto Costa (PT-PE). “Se Vossa Excelência não tivesse mandato, não continuaria no cargo a partir de amanhã”, afirmou o petista. O diretor-presidente tem mandato de cinco anos.

Sputnik V

A decisão que barrou a importação da vacina russa Sputnik V contra a Covid-19 também esteve no centro do depoimento desta terça-feira. Em mais de uma ocasião, os senadores questionaram os motivos que basearam o veredicto dos diretores da agência reguladora. Suplente da comissão, Angelo Coronel (PSD-BA) pediu que os técnicos da Anvisa autorizassem a aplicação do imunizante “de hoje para amanhã”. “Não podemos mais esperar, quando a gente vê uma fonte de suprimento das nossas necessidades de importação, por questões burocráticas. Queria fazer esse apelo ao senhor: se reúna com seus técnicos, para ver se a Anvisa dá essa autorização, de hoje para amanhã, para que esse lote de vacinas da Sputnik V possa ser importado. Se o ser humano lá na Argentina usa e não está tendo problema, não vejo porque não usar no Brasil. Até porque há uma lei que reveste a Anvisa de subsídio até para se resguardar dessa autorização de importação”, disse o parlamentar, se referindo à lei 14.424, de março de 2021, que dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos.

A senadora Rose de Freitas (MDB-ES), por sua vez, questionou Barra Torres se, em sua opinião, “os técnicos da Anvisa sabem mais que os outros países” que aprovaram o uso emergencial da Sputnik V. “São 600 páginas somente sobre o vírus replicante. Lá está bem demonstrado a presença diferente de zero. Vacina não é para ter vírus replicante, tem que ser zero. Os dados que estão demonstrados nos documentos dos próprios russos mostram números superior, número diferente de zero. Essa é a colocação”, rebateu Barra Torres.

JP