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Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF após denúncia de assédio


Publicado em: 7 de junho de 2021


Afastamento de 30 dias ocorreu por decisão da Comissão de Ética da confederação após denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária

Quando assumiu a presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em abril de 2019, Rogério Caboclo afirmou que sua gestão seria pautada sobre dois pilares: integridade e eficiência. “Não vamos tolerar nenhuma prática duvidosa”, afirmou o cartola na sua cerimônia de posse, na qual substituiu Antônio Carlos Nunes, conhecido como capitão Nunes, que interinamente comandava a entidade após o afastamento de Marco Polo Del Nero.

Antes do “mandato tampão” de Nunes, os três presidentes anteriores da confederação – Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero – tiveram problemas com a Justiça e acabaram banidos do futebol pela Fifa.

Pouco mais de dois anos depois de chegar ao comando da confederação e prometer medidas para lidar com o desgaste em sua imagem, Caboclo se vê agora também envolvido em polêmica, depois de ser acusado de assédio sexual e moral por uma funcionária da entidade e afastado pelo Conselho de Ética da CBF.

Ascensão em meio à crise na CBF

Filho de Carlos Caboclo, ex-dirigente do São Paulo, Rogério começou cedo sua trajetória nos bastidores do futebol. Advogado e administrador de empresas, aos 26 anos passou a integrar o conselho deliberativo do São Paulo e, dois anos depois, assumiu como diretor-executivo e financeiro do clube.

Aos 30 anos Caboclo deixou os bastidores de um time e ingressou na política do futebol na Federação Paulista de Futebol (FPF), onde ficou de 2002 a 2015 e comandou as áreas administrativa e financeira da entidade, então presidida por Marco Polo Del Nero, de quem se tornou um “homem de confiança”. Na federação, ele assumiu também a vice-presidência.

Além da vice-presidência da FPF, Caboclo foi também diretor de Relações Institucionais do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.

Em 2015, quando Del Nero assumiu a presidência da CBF, Caboclo começou sua trajetória na entidade máxima do futebol brasileiro, onde foi diretor financeiro e diretor-executivo.

Depois de chegar à confederação, Caboclo foi diretor de relações institucionais do Comitê Olímpico Local da Rio 2016 e ocupou cargo semelhante no Comitê Organizador Local da Copa América de 2019. Além disso, foi escolhido pela entidade como o chefe da delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.

Sua chegada ao topo da hierarquia na CBF ocorreu em meio à crise institucional que atingia a entidade e seu padrinho, Marco Polo Del Nero.

Del Nero começou a ser investigado em novembro de 2015, por suspeita de envolvimento em esquemas de recebimento de propina para beneficiar empresas de mídia e de marketing em torneios de futebol, como as copas América, Libertadores e do Brasil.

No final de 2017 ele foi suspenso pela Fifa e afastado provisoriamente do cargo e, em abril de 2018, banido do futebol, em decisão que o impediu de continuar a exercer qualquer atividade tanto em nível nacional quanto internacional na modalidade.

Com a saída de Del Nero, o vice-presidente mais antigo da CBF, capitão Nunes, assumiu o comando da entidade em um mandato tampão. Eleito em 2018, Caboclo assumiu seu cargo em abril de 2019 prometendo lidar com o desgaste à imagem da entidade, com ações para aumentar o controle de governança, risco e conformidade, aplicando “com energia o código de ética”.

Depois de pouco mais de dois anos, porém, ele mesmo tornou-se um ponto de crise dentro da entidade.

Pressão de dirigentes e patrocinadores

As investigações contra o ex-presidente da entidade devem começar já nesta segunda-feira (7). A denúncia foi protocolada na sexta-feira (4) e, de acordo com o Código de Ética da organização, os trâmites investigativos começam no próximo dia útil após o recebimento da notificação.

Caboclo será investigado e julgado por duas câmaras diferentes, que fazem parte da comissão. A primeira é composta por cinco membros, e terá um relator escolhido pelo próprio presidente do conselho, Carlos Renato de Azevedo Ferreira.

O grupo é responsável por apurar indícios, ouvir testemunhas e analisar provas da denúncia. A Câmara de Julgamento irá analisar o relatório dos integrantes, e aplicar as medidas cabíveis caso decidam pela condenação.

CNN confirmou com fontes que o diretor de Governança e Conformidade da CBF, André Megale, enviou um e-mail na noite de sábado (5) sugerindo que Caboclo se licenciasse da função até que a investigação fosse concluída. Também justificou que, dessa forma, Caboclo conseguiria dedicar-se à própria defesa. O e-mail foi direcionado ao atual presidente e outros 22 dirigentes.

De acordo com a apuração, a maioria concordou com o conselho de afastamento feito por Megale. Ainda segundo fontes, outros dirigentes, porém, estariam tentando convencer Caboclo a renunciar e teriam justificado que seria mais honroso para o então presidente da instituição comunicar sua saída do que ser afastado pela CBF.

Mas Caboclo estaria resistindo à ideia e, até o momento, não teria reunido seus dirigentes para se explicar das acusações, o que estaria tornando sua situação cada vez mais delicada internamente.

Fontes internas afirmaram também que até patrocinadores da Seleção já teriam manifestado incômodo com as acusações contra Rogério Caboclo.

Com o afastamento de Caboclo, novamente por ser o vice-presidente mais velho na entidade, Nunes assume o comando da CBF, menos de dois anos e meio depois de ter passado o bastão para Rogério.

A denúncia

Uma denúncia formal de assédio moral e sexual contra Caboclo foi enviada à Comissão de Ética da CBF e a Diretoria de Governança e Conformidade na última sexta-feira (4).

A acusação foi feita por uma funcionária que ocupa um cargo de confiança e trabalha há cerca de nove anos na CBF. No documento apresentado pelo escritório Ideses Advogados, que representa a suposta vítima, a defesa afirma ter provas dos fatos narrados e pede que o dirigente seja investigado e afastado. Os advogados também pedem investigação na Justiça estadual.

Desde então, a funcionária encontra-se afastada de suas funções após, supostamente, apresentar problemas de saúde.

Em nota, a defesa de Rogério Caboclo informou “que ele nunca cometeu nenhum tipo de assédio. E vai provar isso na investigação da Comissão de Ética da CBF.”

(Com informações da Agência Brasil)