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Fome no Brasil atinge 33 milhões e volta ao patamar dos anos 90


Publicado em: 8 de junho de 2022


Aproximadamente 33,1 milhões de brasileiros passam fome no Brasil em 2022, ou seja, estão sujeitos à insegurança alimentar grave. O número equivale a 15,2% da população do país. Os dados são do 2º Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado na quarta-feira (8) pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

O estudo, executado pelo instituto Vox Populi, mostra que esse número quase dobrou em relação a 2020, atingindo 14 milhões de pessoas a mais. Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa econômica Aplicada) mostram que em 1993 o país tinha 32 milhões de pessoas passando fome. Isso quer dizer que a fome no Brasil em 2022 se equipara à fome do Brasil de quase 30 anos antes.

“Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013 reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros [tirando o País do mapa da fome mundial]”, disse Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.

A insegurança alimentar é mais ampla do que a fome. Ela é caracterizada pela falta de acesso pleno e estável a alimentos de qualidade e quantidade adequados. Ela pode ser:

grave, quando a pessoa convive com a fome dentro de casa

moderada, quando a qualidade está comprometida e a quantidade não é suficiente para todos da família

leve, quando há redução da qualidade por medo de faltar comida em casa

O levantamento aponta que mais da metade da população (58,7%) sofre com a insegurança alimentar em algum grau em 2022, seja ele leve, moderado ou grave. Seis de cada dez famílias, portanto, não têm pleno acesso a alimentação, numa soma que chega a cerca 125,2 milhões de brasileiros. Trata-se de um aumento de 7,2% em relação a 2020, quando foi feita a primeira edição da pesquisa e quando a pandemia foi decretada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

A partir de dados históricos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é possível fazer comparações com anos anteriores. Em relação a 2018, por exemplo, houve um grande salto, com aumento de 60% de pessoas em situação de insegurança alimentar no Brasil.

Segundo os especialistas responsáveis pelo estudo, esse quadro preocupante não se deve apenas à pandemia de covid-19 e aos impactos econômicos da guerra na Ucrânia, mas também à falta de atuação do poder público. “As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, disse Renato Maluf.

De acordo com o levantamento, a região do país onde há mais pessoas sofrendo fome é o Nordeste (12,12 milhões), seguido por Sudeste (11,74 milhões), Norte (4,85 milhões), Sul (3,01 milhões) e Centro-Oeste (2,15 milhões). O estudo também mostra outros dados:

A insegurança alimentar esteve presente em mais de 60% dos domicílios de áreas rurais

65% dos lares comandados por pessoas pretas ou pardas apresenta insegurança alimentar em algum nível em comparação a 53,2% das casas com chefes de família brancos

A fome castiga 19,3% dos lares onde a mulher é a pessoa de referência e 11,9% das casas onde o homem cumpre esse papel

De 2020 para 2022, a insegurança alimentar grave dobrou entre as famílias que têm crianças menores de 10 anos

Os pesquisadores entrevistaram pessoas de 12.745 domicílios, distribuídos em áreas urbanas e rurais de 577 municípios das 27 unidades da federação entre novembro de 2021 e abril de 2022. Os critérios adotados pelo levantamento tiveram como base a Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), que é também utilizada pelo IBGE.

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