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Boris Johnson: 4 questões-chave do escândalo sexual que levou a onda de renúncias e nova crise


Publicado em: 7 de julho de 2022


Em poucos dias, a mídia britânica publicou informações de pelo menos sete casos de suposta conduta sexual inapropriada de um aliado nos últimos anos. Johnson estava ciente de ‘alegações que foram resolvidas ou não avançaram para a fase de reclamação’.

 

Um novo escândalo abala o governo de Boris Johnson.

O primeiro-ministro do Reino Unido vive uma crise de consequências imprevisíveis, iniciada com um escândalo sexual envolvendo Chris Pincher, um parlamentar conservador próximo a Johnson.

 

Mais de 30 funcionários do alto escalão do governo britânico pedem demissão e crise de Boris Johnson se agrava

Ao menos 41 funcionários do governo renunciaram ou foram demitidos até a quarta-feira (6), incluindo o ministro do Tesouro, Rishi Sunak, e o ministro da Saúde, Sajid Javid. São dois nomes fortes ​​do Executivo, fato que enfraquece a posição de Johnson.

Sunak argumentou que os cidadãos esperam que o governo seja dirigido de uma forma “apropriada, competente e séria”. Javid declarou que o governo não estava “atuando pelo interesse nacional”.

As demissões reacenderam as expectativas de que o premiê britânico pode cair.

Michael Gove, um membro veterano do gabinete, pediu ao primeiro-ministro que ele renuncie à medida que as demissões aumentavam, e espera-se que outros membros do governo, entre eles alguns dos aliados mais próximos de Johnson, façam o mesmo, de acordo com informações obtidas pela BBC.

Johnson, que se tornou o líder britânico que mais pedidos de demissão recebeu desde 1932, insistiu que não deixará o cargo e que está aberto a questionamentos no Parlamento.

Esses episódios ocorrem menos de um mês depois que o primeiro-ministro enfrentou uma moção de desconfiança em que 41% dos parlamentares de seu próprio partido votaram contra ele.

Essa tentativa de removê-lo do cargo ocorreu em decorrência das fotos e evidências de reuniões e comemorações na sede do governo que vieram à tona enquanto o resto do país estava confinado em razão das restrições impostas pelo próprio governo de Johnson durante a pandemia de covid-19.

A BBC responde a seguir às perguntas-chave sobre a nova crise.

  1. Como a crise começou?

Em 30 de junho, o jornal britânico “The Sun” publicou que Chris Pincher, então deputy chief whip da bancada do Partido Conservador no Parlamento, apalpou dois homens em um clube privado em Londres.

 

O deputy chief whip é um posto que, no sistema político britânico, tem como atribuição garantir que parlamentares do partido votem conforme a orientação das lideranças.

Pincher, que havia sido nomeado para esse cargo por Johnson em fevereiro deste ano, renunciou imediatamente.

Em poucos dias, a mídia britânica publicou informações de, pelo menos, seis outros casos de suposta conduta sexual inapropriada de Pincher nos últimos anos.

Pincher, que foi suspenso pelo Partido Conservador, pediu desculpas e disse que cooperará totalmente com as investigações sobre sua conduta e está buscando “apoio médico profissional”.

  1. Por que Boris Johnson está implicado nisso?

Embora o primeiro-ministro britânico não esteja envolvido nessas denúncias de conduta sexual inapropriada, o escândalo coloca Pincher em uma posição difícil, porque o julgamento feito pelo premiê a respeito está sendo questionado, assim como a transparência com que o governo tratou o caso.

Em 1º de julho, o governo disse à imprensa que Johnson não estava ciente de nenhuma alegação contra Pincher antes de sua nomeação.

Um porta-voz disse que o primeiro-ministro não estava ciente de “acusações específicas” sobre Pincher.

Essa foi a mesma posição que vários membros do gabinete mantiveram nos dias seguintes.

 

No entanto, em 4 de julho, o porta-voz disse que Johnson estava ciente de “alegações que foram resolvidas ou não avançaram para a fase de reclamação” e que não foi considerado apropriado interromper a nomeação de Pincher devido a “alegações sem fundamentamento”.

Naquela mesma tarde, no entanto, a BBC revelou que Johnson havia sido informado sobre uma queixa formal sobre o “comportamento inapropriado” de Pincher enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores entre 2019 e 2020.

Esta queixa levou a um processo disciplinar que confirmou que o comportamento inadequado ocorreu.

Mais tarde, em uma entrevista à BBC, Johnson disse: “Houve uma reclamação que foi trazida à minha atenção especificamente… Foi há muito tempo, e chegou até mim verbalmente. Mas isso não é desculpa, eu deveria ter agido a partir disso”.

O primeiro-ministro descreveu como “um erro” ter nomeado Pincher, que ele disse ter se comportado “muito, muito mal”, e Johnson pediu desculpas às pessoas afetadas.

  1. Por que o premiê está em uma situação delicada?

“Isso é tudo sobre uma coisa: a verdade”, diz o editor de Política da BBC, Chris Mason, analisando a crise em curso no governo britânico.

“Independentemente da onda de detalhes e acusações, tudo se resume a se as pessoas podem acreditar no que o Johnson diz”, acrescenta.

E a resposta do governo ao escândalo de Pincher foi mudando progressivamente à medida que outros elementos surgiram, como aconteceu durante o chamado Partygate, caso sobre encontros realizados na sede do governo durante o confinamento devido ao coronavírus, em que ficou provado que Johnson havia participado de algumas dessas reuniões sociais.

“As perguntas são sobre o que Boris Johnson sabia e quando ele sabia. E as respostas continuam mudando, muitas vezes em resposta a fatos desconfortáveis ​​que demonstram que sua defesa anterior não tão sincera quanto poderia ter sido”, afirma Manson.

  1. O que pode ocorrer agora?

Em teoria, tendo sobrevivido a uma moção de desconfiança há apenas um mês, Boris Johnson está protegido de outra iniciativa desse tipo por um ano.

Isso é estabelecido pelas regras atuais do Comitê de 1922, grupo que reúne os parlamentares do Partido Conservador Britânico. Isso indica que este é o período que deve transcorrer antes que o líder do partido possa ser questionado novamente.

No entanto, os críticos de Johnson querem agora mudar a liderança desse comitê para tentar controlá-lo e alterar essa regra para possibilitar uma nova moção.

O parlamentar conservador Andrew Bridgen, um dos mais críticos de Johnson, disse à emissora Sky News que espera que o novo conselho seja a favor de mudar essa regra.

Questionado pela BBC sobre a viabilidade dessa mudança nos regulamentos, Graham Brady, atual chefe do Comitê de 1922, disse que “tecnicamente é possível”.

Na votação que ocorreu há um mês, Johnson obteve 211 votos a favor e 148 contra.

No entanto, sua situação política se deteriorou ainda mais nos últimos dias com o escândalo Pincher, primeiro, e agora com as renúncias de seu governo.

Outro mecanismo que pode levar à saída de Johnson é a convocação de uma moção de censura no Parlamento, no qual parlamentares de todos os partidos podem participar.

Essa iniciativa já foi proposta pelos Liberais Democratas, mas, para prosperar, precisaria ser apresentada pelo Partido Trabalhista, e o governo teria que concordar que ela fosse incluída na agenda do Legislativo.

Também é possível que as renúncias continuem ocorrendo dentro do gabinete, aumentando a pressão política sobre Johnson para renunciar.

Mas há vários ministros que já confirmaram apoio a Johnson. Entre eles, estão a Ministra da Cultura, Nadine Dorries, a Ministra do Interior, Priti Patel, e o Ministro das Oportunidades do Brexit, Jacob Rees-Mogg.

Por fim, existe a possibilidade de que o primeiro-ministro britânico consiga enfrentar a tempestade, como fez em crises anteriores, embora analistas concordem que o tempo está se esgotando.

‘Fim de Boris Johnson como primeiro-ministro parece iminente’

Análise de Chris Mason, editor de política da BBC

Às vezes, a política é sutil. Hoje, não foi um desses dias.

Sentado na cabine de imprensa enquanto o primeiro-ministro respondia às perguntas dos parlamentares, podia-se sentir e ouvir a autoridade de Boris Johnson se esvair.

O tribalismo é medido em decibéis em Westminster, e o caucus conservador foi quase silencioso. O barulho veio da bancada da oposição naquela que foi a sessão mais dura para Boris Johnson desde que ele ganhou as eleições.

À tarde, cartas de demissão e falta de confiança se acumulavam, e mesmo os mais leais a Johnson reconheceram em particular, mas também aberta e detalhadamente, que o jogo havia acabado.

“É o fim?”, perguntei a um ministro. “Temo que sim. É uma questão de horas e dias”, respondeu ele.

Então, um após o outro, vários ministros me enviaram mensagens dizendo que iriam ver Johnson esta noite para lhe dizer explicitamente que ele tem que deixar o cargo.

O fim de Boris Johnson como primeiro-ministro parece iminente.

 

Por BBC