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Pela primeira vez, Haiti registra níveis catastróficos de fome


Publicado em: 17 de outubro de 2022


Seca, terremoto, inflação e violência de gangues pioraram a situação em algumas regiões.

Uma série de crises deixou haitianos vulneráveis ​​em um ciclo de crescente desespero, sem acesso a alimentos, combustível, produtos no mercado, emprego e serviço público, paralisando o país. Esse é o alerta da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA.

Insegurança alimentar e violência de gangues

As agências da ONU afirmam que a fome atingiu níveis catastróficos, ou o nível 5, o mais alto na Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar em Cité Soleil, a maior comunidade de Porto Príncipe, capital do Haiti.

Segundo a última análise da Classificação, conhecida como IPC, um recorde de 4,7 milhões de pessoas estão atualmente enfrentando fome aguda, nível 3 ou mais alto, incluindo 1,8 milhão de pessoas em Fase de Emergência, nível 4, e pela primeira vez no Haiti, 19 mil pessoas estão em Fase de Catástrofe, nível 5.

Em Cité Soleil, o aumento da insegurança alimentar preocupa nos últimos três anos. Atualmente, 65% de sua população, especialmente os mais pobres e vulneráveis, estão nos mais altos níveis do IPC, com 5% em necessidade urgente de assistência humanitária.

Seca e terremoto pioraram a situação

O aumento da violência em Cité Soleil, com grupos armados disputando o controle da área, fez com que os moradores perdessem o acesso ao trabalho, aos mercados e aos serviços de saúde e nutrição. Muitos foram forçados a fugir ou se esconderem dentro de casa.

A segurança alimentar também piorou nas áreas rurais, com várias passando da Fase de Crise para a Fase de Emergência, nível 4 do IPC. Perdas de colheita devido às chuvas abaixo da média e o terremoto de 2021 que arrasou partes dos departamentos de Grand’Anse, Nippes e Sud estão entre os choques que pioraram as condições.

O diretor do PMA no Haiti disse que agencia “está com o povo”, ajudando os mais pobres e vulneráveis e garantindo que crianças em idade escolar recebam uma refeição nutritiva todos os dias. Martin Bauer acredita que há um caminho a seguir, mas é preciso ser firme e se concentrar em “fornecer assistência humanitária urgente e apoiar o desenvolvimento a longo prazo”.

Inflação e surto de cólera

Já o representante da FAO no país, José Luis Fernández Filgueiras, defende ampliar os esforços de mobilização de recursos para fortalecer a resiliência das famílias e aumentar a autossuficiência.

Durante anos, desastres naturais e turbulências políticas afetaram haitianos que já estavam necessitados nas áreas rurais e urbanas. O início da crise alimentar global, com o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, levou a uma crescente agitação que mergulhou o Haiti no caos, paralisando completamente as atividades econômicas e os transportes.

O preço da cesta básica disparou. A inflação está no patamar dos 33% e o custo da gasolina dobrou. Um recente surto de cólera e a falta de água potável agravaram a situação, arriscando a vida de mais pessoas, que estão no limite da sobrevivência.

Ajuda humanitária e financiamento

Apesar da insegurança em Porto Príncipe, o PMA tem levado assistência de emergência a mais de 100 mil haitianos na área metropolitana em 2022.

A agência também realiza outras atividades de geração de renda, como conectar pequenos agricultores aos mercados locais, soluções de redução de risco de desastres em nível comunitário e o programa da merenda escolar.

Em 2021, o PMA atendeu 1,3 milhão de pessoas. E este ano, planeja chegar a 1,7 milhão de haitianos. A agência precisará de US$ 105 milhões, pelos próximos seis meses, para responder a crise, combater suas causas profundas e reforçar a resiliência dos haitianos.

Operações humanitárias

Uma outra agência da ONU, FAO, tem fornecido apoio de subsistência emergencial a famílias agrícolas vulneráveis.

Na estação agrícola, que começa este mês, o objetivo é alcançar cerca de 70 mil pessoas.

A FAO informou que precisa, urgentemente, de cerca de US$ 33 milhões para assistir a mais de 470 mil pessoas.

Enquanto as agências continuam operando no Haiti, o aumento da insegurança, violência e falta de combustível estão dificultando as operações humanitárias que são essenciais para os haitianos mais carentes.

Crianças vulneráveis ao cólera

Um outro alerta foi feito pelo Fundo da ONU para a Infância, Unicef. Cerca de 100 mil crianças, abaixo de 5 anos, que já sofrem de desnutrição aguda grave, são especialmente vulneráveis ​​ao surto de cólera no Haiti.

Desde o primeiro surto em 2 de outubro de 2022, houve 357 casos suspeitos, com mais da metade em crianças menores de 14 anos. O maior risco é para a faixa etária de 1 a 4 anos.

Segundo o representante do Unicef no país, Bruno Maes, “a crise no Haiti é cada vez mais uma crise infantil”. Para crianças já estão fracas por falta de alimentos nutritivos, pegar cólera e sofrer com diarreia e vômito, é quase uma sentença de morte”.

Em Cité Soleil, onde se deu a primeira notificação de cólera, até 8 mil crianças menores de 5 anos correm o risco de morrer de desnutrição e cólera, a menos que sejam tomadas medidas urgentes para conter essa ameaça.

O Unicef fez um apelo preliminar para uma resposta específica ao cólera de US$ 22 milhões. Até o momento, o financiamento não chegou.

*Com informações da ONU News.