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Venda de veículos novos cresce 7,3% em junho, com impulso dos descontos no carro zero


Publicado em: 8 de maio de 2024


Segundo levantamento da Fenabrave, foram emplacados 998.270 carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no primeiro semestre de 2023, uma alta de 8,76%. ‘Gás extra’ de programa de descontos do governo deve vigorar por pouco tempo.

 

As vendas de veículos novos no Brasil tiveram alta de 7,39% em junho, mostram os resultados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) nesta terça-feira (4).

Em números absolutos, foram emplacadas 189.528 novas unidades no país, entre carros, comerciais leves, caminhões e ônibus. O g1 não contabiliza motos e implementos rodoviários.

No primeiro semestre, foram 998.270 emplacamentos. Isso representa alta de 8,76% em relação ao mesmo período de 2022. Em comparação a junho de 2022, a alta foi de 6,33%.

Esse é o primeiro resultado oficial do setor depois do programa de barateamento de carros zero, um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua equipe econômica. Foram liberados incentivos de R$ 1,8 bilhão para que montadoras dessem descontos em veículos novos. (veja mais abaixo)

AUTOMÓVEIS

  • Os automóveis tiveram 017 emplacamentosno mês de junho;
  • Isso representa uma alta 11,41% em relação a maio (127.478 unidades);
  • No acumulado do ano, o crescimento foi de 7,37%, com total de 733.442 unidades;
  • Comparado a junho de 2022, houve alta de 6,33% (133.566 unidades).

COMERCIAIS LEVES

  • Os comerciais leves tiveram 672 emplacamentosno mês de junho;
  • Trata-se de uma queda de 3,09% em relação a maio (38.874 unidades);
  • O resultado do segmento ainda é expressivo em 2023: houve alta de 19,51% no semestre (201.077 unidades);
  • Comparado a junho de 2022, o crescimento foi de 18,19% (31.876 unidades).

CAMINHÕES E ÔNIBUS

  • Caminhões tiveram 722 emplacamentose ônibus, 2.115 emplacamentos;
  • No mês, caminhões (-2,17%) e ônibus (-5,45%) tiveram baixas.
  • Os caminhões têm queda expressiva no semestre (-12,10%), enquanto ônibus têm alta (45,83%).

Carro zero com desconto

O programa de descontos do governo tenta dar um estímulo à indústria e animar o consumidor para mover a economia. Críticos do programa denunciam o incentivo aos combustíveis fósseis e a ineficácia para aquecer o setor.

De acordo com Andreta Jr, presidente da Fenabrave, o número de junho poderia ser maior não fosse por um represamento do mercado. Houve problemas de logística, como atrasos de refaturamento e emissão de notas de carros novos, além de atrasos de liberação dos Detrans com o alto volume de procura nas concessionárias.

O levantamento da Fenabrave não diz quantos veículos foram emplacados com desconto, mas mostra que o emplacamento diário subiu de uma média de 3 mil a 4 mil para um pico de 22,4 mil no último dia útil de junho. Parte das vendas, portanto, será despejada em julho.

“No nosso entender, o programa foi um sucesso para fazer ‘bater o coração’ [reviver o setor], mas precisa haver uma continuidade nesse trabalho”, diz Andreta Jr.

A Fenabrave estuda alternativas do que seria essa continuidade e enviará sugestões ao governo. O foco será, segundo Andreta Jr., atenuar a perda do poder de compra da população sem onerar a política fiscal.

Por fim, com a perspectiva de aumento de vendas, a Fenabrave revisou as projeções de crescimento para o setor para um cenário de estabilidade, com alta de 0,1% no ano para automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. “Se não houvesse o programa, estaríamos projetando uma queda”, afirma o presidente da entidade.

Renovação do programa e perspectivas

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) decidiu renovar, na semana passada, o programa do governo que barateia o carro zero. Foram liberados mais R$ 300 milhões, e aberta a permissão de compra para locadoras e outras pessoas jurídicas.

O desenho do programa agora tem a seguinte distribuição:

  • R$ 800 milhões para automóveis;
  • R$ 700 milhões para caminhões;
  • R$ 300 milhões para vans e ônibus.

Apesar de reduzir os preços na ponta, a ação foi limitada para compensar a falta de escoamento de produção das montadoras.

Segundo estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o programa tinha potencial de atingir até 120 mil carros novos de uma produção de mais de 2 milhões neste ano. Os cálculos não foram refeitos desde a renovação do programa.

Um vídeo feito no dia 28 pelo Globocop, da TV Globo, causou repercussão ao registrar o pátio da montadora Volkswagen, em São Bernardo do Campo, com milhares de veículos à espera de serem vendidos. (veja o vídeo abaixo)

O acúmulo de estoque fez a montadora promover mais uma parada de produção em suas fábricas por conta de uma “estagnação do mercado”. Em outras palavras, a empresa continua sentindo a falta de demanda por veículos novos, que causou paralisações das principais montadoras do país no início do ano.

O fenômeno é o mesmo que o g1 mostrou à época:

  • os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo Banco Central desde 2021, começaram a trazer consequências mais fortes para a economia.
  • uma delas é, justamente, a redução do consumo por meio da dificuldade de concessão de crédito.
  • o encarecimento do crédito junto com a redução do poder de compra da população reduziu o potencial de financiamento e, por consequência, a demanda por carros novos.

O excedente de produção, em tese, deveria criar novas condições para a comercialização de veículos — a famosa lei da oferta e demanda da economia —, mas analistas ouvidos pelo g1 dizem que as montadoras precisam retomar as perdas por conta do momento que viveram durante a pandemia de Covid.

Com custo de produção em alta devido aos entraves logísticos e falta de matéria-prima durante os últimos anos, as empresas precisam recuperar o “dinheiro perdido”. Ainda que as cadeias logísticas tenham melhorado em 2022, houve a guerra na Ucrânia que trouxe novos impactos em preços de commodities necessárias para a indústria.

É o caso de metais usados em semicondutores, peças responsáveis pela condução das correntes elétricas. São chips indispensáveis para a montagem de automóveis e eletroeletrônicos — que também tiveram aumento de demanda durante a pandemia.

Além disso, o mercado está em momento de alta competitividade, já que as montadoras correm contra o relógio em busca de desenvolver veículos que funcionem com novas matrizes energéticas, por exemplo. A eletrificação da linha demanda investimentos em pesquisa e eficiência, para que o produto final tenha preço competitivo dentro do mercado.

Por Raphael Martins, g1