- Crédito da Foto: Arquivo/ Guilherme Cunha/ Alerj - Publicado em: 1 de abril de 2024
A Polícia Federal (PF) ampliou suas perspectivas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. Além da disputa imobiliária previamente mencionada em uma área controlada por milícias, as investigações descobriram novos elementos que levaram a família Brazão a encomendar o assassinato da vereadora.
De acordo com a PF, a hostilidade de Chiquinho e Domingos Brazão em relação aos políticos do PSol começou durante o período em que os dois irmãos estavam filiados ao PMDB (hoje MDB). Entre 2007 e 2018, durante o governo do Rio de Janeiro liderado pelo partido, houve uma intensa oposição do PSol.
Um dos momentos de confronto mencionados por Ronnie Lessa – acusado de assassinar Marielle – durante seu depoimento foi durante a CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual do PSol, Marcelo Freixo, que tinha Marielle como assessora.
A PF levanta a hipótese de que a investigação “revelou uma perigosa conexão entre o crime organizado e a política no Rio de Janeiro, identificando vereadores e deputados estaduais que lideravam grupos paramilitares desse tipo”.
As interações da família Brazão com esses grupos foram observadas na Comunidade de Rio das Pedras, considerada o epicentro da milícia no Rio de Janeiro, e se expandiram para outras áreas em Jacarepaguá, Zona Oeste, especialmente Osvaldo Cruz. O esclarecimento dessas relações controversas resultou na esperada reação negativa dos agentes públicos implicados ou mencionados no Relatório Final da CPI, incluindo os irmãos Brazão.
A oposição do PSol à nomeação de Domingos Brazão para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro também contribuiu para a animosidade dos dois irmãos, conforme afirmou Lessa. Além de questionar a competência de Domingos para ocupar o cargo – que normalmente é reservado a um servidor de carreira do órgão -, a bancada do PSol na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) argumentou que os procedimentos formais para a nomeação não foram seguidos e ameaçou levar o caso à Justiça.
Em outubro de 2017, Marielle publicou um vídeo em suas redes sociais onde Marcelo Freixo criticava o então deputado Flávio Bolsonaro por ter apoiado a indicação de Domingos Brazão para o TCE-RJ. Em novembro, outro deputado do PMDB, Edson Albertassi, foi nomeado para o mesmo órgão. Desta vez, Marcelo Freixo obteve uma liminar judicial para suspender a nomeação.
No dia seguinte à concessão da liminar, a PF deflagrou a Operação Cadeia Velha, um desdobramento da Operação Lava Jato, que resultou na prisão de Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo, todos deputados do PMDB e próximos aos Brazão. Os três foram condenados por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Os investigadores da PF suspeitam que os Brazão possam ter visado Marielle para intimidar Freixo, que seria um alvo mais difícil por conta de sua segurança armada desde os tempos da CPI das Milícias.
Segundo a PF, os Brazão culpam Freixo pela liminar que suspendeu a nomeação, evitando que a investigação da Cadeia Velha fosse encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Esse incidente aprofundou ainda mais a animosidade entre os irmãos e o PSol.
Em ambos os casos, Marielle Franco estava engajada na mobilização social contra o PMDB. A decisão da família Brazão de assassinar a vereadora teria sido influenciada pelas informações fornecidas por Laerte Lima da Silva, um infiltrado do grupo no PSol.
“Ronnie Lessa relatou que durante a primeira reunião com os irmãos Brazão, por volta de setembro de 2017, quando foi acordada a execução de Marielle Franco, surgiram as primeiras menções sobre a motivação do crime, indicando que a vítima foi vista como um obstáculo aos interesses dos irmãos, e essa percepção teria sido alimentada por informações de Laerte Lima da Silva”, conforme detalha o relatório da PF. Essas informações foram reportadas pelo Metrópoles.