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EUA e Israel intensificam a guerra híbrida na Síria


Publicado em: 15 de janeiro de 2018


por M K Bhadrakumar [*]

. A base aérea russa de Hmeimim e a base naval de Tartus, na Síria, foram atacadas simultaneamente por drones no sábado passado. O avançado sistema de defesa aérea russo frustrou o ataque. Uma onda de 13 drones foi utilizada e, de modo interessante, três deles foram descidos intactos.

Depois de 48 horas de análise cuidadosa do incidente, na 2ª feira o Ministério da Defesa russo em Moscovo publicou ma declaração:

Durante horas noturnas instalações de defesa aérea russa verificaram que 13 desconhecidos alvos aéreos de pequena dimensão aproximavam-se de ativos militares russos. Dez UAVs (unmanned aerial vehicle), estavam a aproximar-se da base aérea de Hmeymin e outros três do centro logístico de Tartus.

As soluções de engenharia utilizadas pelos terroristas no ataque às instalações russas na Síria só podiam provir de um país com alto potencial tecnológico para providenciar navegação por satélite e controle de fogo à distância dos dispositivos explosivos montados com competência. (TASS)

Os países com tal “alto potencial tecnológico” e capacidade para “navegação por satélite e controle à distância” que estão envolvidos na guerra por procuração (proxy) na Síria são apenas dois – os Estados Unidos e Israel. Faça a sua escolha. No meu entender, é improvável que Israel, apesar das suas bravatas, ousasse atacar a Rússia.

Em suma, houve um vingativo ataque americano a “activos” russos no Dia de Natal da Igreja Ortodoxa Russa. A declaração em Moscovo foi após a avaliação de três drones que foram capturados. O seu tom razoavelmente explícito é destinado aos sujeitos no Pentágono. Naturalmente, o Pentágono por sua própria iniciativa (suo moto) saiu-se com uma declaração antecipativa a desviar a culpa para rebeldes sírios. Trata-se de um ato de negação plausível, uma vez que há grupos rebeldes a operarem no norte da Síria. Mas eles são filiados à Al-Qaeda, os quais são proxies americanos e israelenses. A RT tem uma réplica irónica, aqui, à ressalva do Pentágono.

Por que os EUA estão a contestar as bases russas na Síria? A questão é que estas bases russas estão localizadas na província de Latakia junto à costa do Mediterrâneo. E o objetivo dos militares estado-unidenses é ganhar acesso à costa mediterrânea para o enclave do Curdistão que está a criar na Síria sem que o mesmo enclave fique cercado de terra e dependente criticamente de rotas de abastecimento via Turquia ou Iraque, além de ser economicamente inviável (embora seja uma região da Síria rica em petróleo).

O diário Asharq Al-Awsat do establishment saudita informou na 2ª feira que a administração Trump está a planear conceder reconhecimento diplomático ao enclave do Curdistão no norte da Síria (o qual é do tamanho do Líbano). A ideia é criar uma cabeça de ponte permanente para os EUA e Israel num estratégico Curdistão independente economicamente auto-suficiente onde se encontram as fronteiras da Turquia, Iraque e Síria – e que podem finalmente alcançar a fronteira ocidental do Irã com o norte do Iraque.

Mas a estratégia dos EUA-Israel permanecerá um sonho fantástico se o Curdistão ficar trancado e continuar a ser desafiado pela Turquia, Irão, Iraque e Síria. Daí a criticalidade de criar uma rota de acesso para o Mediterrâneo via província da Latakia.

A Rússia e a Turquia entendem as intenções dos EUA perfeitamente bem. Isso explica seu mais recente movimento para limpar os grupos filiados à Al-Qaeda que estão escondidos na província de Idlib adjacente à de Latakia. As forças do governo sírio e da sua milícia aliada com apoio aéreo russo estão a avançar em Idlib numa operação que começou na semana passada. Idlib é uma província razoavelmente grande e é necessário algum combate prolongado para vencer estes grupos al-Qaeda. No domingo, forças governamentais sírias capturaram uma cidade estratégica, Sinjar, o que as traz a um raio de 20 km da vasta base aérea de Abu Zuhor em Idlib. A propósito, a auto-estrada que liga Damasco a Alepo também passa através de Idlib oriental.

A Turquia está a cooperar com a Rússia na limpeza de Idlib dos grupos al-Qaeda (Idlib faz fronteira com a Turquia). Na verdade, a Turquia opõe-se firmemente aos esforços dos EUA para criar um Curdistão no norte da Síria. Na semana passada, o presidente Recep Erdogan ameaçou abertamente que Washington “nunca será capaz de transformar o norte da Síria num corredor do terror”, prometendo “atingi-los (aos EUA) muito duramente. Eles deveriam saber que estamos determinados quanto a isto. Áreas que eles consideram como parte do corredor do terror poderiam transformar-se nas suas sepulturas”.

É concebível que as recentes tentativas dos EUA e Israel para provocar perturbações dentro do Irão estejam ligadas a tudo isto. O plano de jogo estado-unidense-israelense é deixar o Irão afundado em questões internas. Os governos sírio e iraquiano estão dependentes do Irão e do Hezbollah para aguentar o peso da guerra contra os grupos al-Qaeda e ISIS apoiados pelos EUA.

Teerã entende a estratégia dos EUA-Israel. O regime iraniano é altamente experiente em derrotar as operações encobertas dos EUA e Israel. O líder supremo Ali Khamenei entende que o conflito sírio é também uma batalha existencial para o Irã. Os comandantes dos Corpos de Guardas Revolucionários Islâmicos estão conscientes de que a opção é entre combater os proxies dos EUA-Israel na Síria e no Iraque ou combate-los sobre o solo iraniano.

Como reagirá Moscou ao ataque com drones apoiado pelos EUA às suas bases? Uma solução permanente consiste em retaliar contra as forças americanas e infligir-lhes baixas pesadas – como em Beirute em 1983. Se umas poucas dúzias de sacos de corpos americanos chegarem a Washington vindos da Síria, o presidente Trump certamente dirá: “Já basta, rapazes, voltem para casa”.

Mas o problema é que os EUA estão a combater uma “guerra híbrida”, embutida dentro da milícia curda e não podem ser alvejados facilmente. O Pentágono também inseriu “empreiteiros” (mercenários americanos) de modo q que o risco político seja minimizado.

Portanto, a opção da Rússia será intensificar as operações para limpar a província de Idlib de uma vez para sempre dos grupos al-Qaeda apoiados pelos EUA e Israel. Na verdade, Nikki Haley começará a uivar na ONU sob instruções israelenses a alegar “crimes de guerra”.

Naturalmente, como dizem, na guerra e no amor vale tudo e há também uma outra opção aberta aos russos ou iranianos – equipar os Taliban afegãos com drones. Mas é improvável que cheguem a ir tão longe – pelo menos por agora.

 

[*] Analista político, antigo diplomata indiano.

O original encontra-se em

blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2018/01/09/us-israel-step-up-hybrid-war-in-syria/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

13/Jan/18