Publicado em: 23 de agosto de 2021
O presidente Joe Biden tentou persuadir o público americano e seus aliados internacionais de que a retirada das tropas americanas do Afeganistão não foi precipitada e inevitavelmente resultaria nas cenas caóticas como as testemunhadas durante a semana no aeroporto de Cabul.
No segundo discurso em três dias, Biden se mostrou convincente até a página 2. Ao admitir que cogita postergar o prazo final de 31 de agosto para a saída dos militares, ele deixou explícito que a execução da retirada de americanos e de afegãos ameaçados pelo Talibã não foi planejada e ordenada, como deseja fazer crer. Prova disso é que o governo americano ativou no domingo a Frota Aérea da Reserva Civil, determinando que 18 voos comerciais ajudem na empreitada de realocar milhares de americanos e aliados afegãos e suas famílias. O presidente comemorou o fato de 28 mil pessoas terem sido retiradas do Afeganistão desde o dia 14 — 11 mil em apenas 30 horas. Mas ainda é cedo para assegurar que nenhum americano ou afegão vulnerável ficará para trás, como ele insiste em repetir. A realidade caótica em Cabul e a sensação de abandono de quem colaborou com os EUA nas últimas duas décadas contradizem qualquer garantia que Biden possa dar. “Não há como evacuar tantas pessoas sem dor, perdas e sem as imagens de partir o coração a que assistimos na TV”, argumentou o presidente, para responder às críticas de que lhe faltou empatia com os milhares de afegãos na rota de fuga do país pelo aeroporto de Cabul. A atabalhoada saída do Afeganistão, 20 anos ocupado por forças americanas e agora sob o jugo do Talibã, custa caro à imagem de Biden. Pela primeira vez desde a posse, sua popularidade cai a menos de 50%. Combalido pelos números, criticado por partidários e cobrado por aliados europeus, o presidente, no entanto, não se dá por vencido e mantém-se inflexível em sua decisão: passou da hora de sair de uma guerra “que perdeu o sentido” com a morte de Osama bin Laden, há mais de dez anos. Ainda que a maioria dos americanos respaldem a saída do Afeganistão, Biden não deveria ter tanta certeza de que a História o julgará com gentileza sobre o fim da guerra mais longeva dos EUA. (G1 – Foto: REUTERS/Joshua Roberts) |