Publicado em: 6 de maio de 2019
Índices da China têm maior queda em mais de 3 anos. Presidente dos EUA surpreendeu os mercados ao anunciar que vai elevar as tarifas sobre produtos chineses nesta semana e que terá como alvo centenas de bilhões ‘em breve’.
Os mercados globais tiveram um forte abalo nesta segunda-feira (6) após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar no domingo (5) que o país vai aumentar de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses importados a partir de sexta-feira (10) e ameaçar elevar o alcance das tarifas.
Os investidores foram pegos de surpresa pelas ameaças de Trump, uma vez que a expectativa era de avanço nas negociações comerciais entre as duas potências.
Os principais índices acionários da China mostraram sua maior queda em mais de três anos. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, e o índice Xangai caíram mais de 5% cada um, registrando a maior queda em um único dia desde fevereiro de 2016. As principais bolsas asiáticas também fecharam em queda.
Na Europa, as bolsas também caíram durante a sessão, mas menos que na Ásia. O índice de ações europeias FTSEurofirst 300 caiu 0,94%, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 perdeu 0,88%, em seu pior dia em cerca de um mês e meio.
A Bolsa de Frankfurt caiu 1,01%, e a de Paris, 1,18%. O Ibex 35 de Madri recuou 0,84%, enquanto Milão cedeu 1,63%. Em Londres, a bolsa não operou devido a um feriado.
Em Nova York, os principais índices abriram em queda de mais 1%, mas as perdas foram reduzidas nas horas seguintes. Por volta das 13h40, o Dow Jones caía 0,78%, enquanto o Nasdaq recuava 1% e o S&P, 0,97%.
No Brasil, o Ibovespa opera em queda de mais de 1%, acompanhando bolsas internacionais.
As novas ameaças de Trump também provocavam queda no preço de coommodities como petróleo, soja, trigo e milho.
As bolsas nesta segunda:
Anúncio de Trump
Trump surpreendeu os mercados globais com uma publicação no Twitter na noite de domingo anunciando que as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses vão aumentar para 25% na sexta-feira (10), de 10% já em vigor, revertendo uma decisão tomada em fevereiro de mantê-las nos níveis atuais devido ao progresso das negociações entre os dois lados.
Ele falou também que pretende atingir outros US$ 325 bilhões em mercadorias chinesas com tarifas de 25% “em breve”, essencialmente cobrindo todos os produtos importados da China para os Estados Unidos.
Nesta segunda-feira, Trump voltou a criticar a China devido ao comércio, dizendo que os EUA estão perdendo bilhões de dólares para Pequim e prometendo proteger o comércio norte-americano. “Desculpe, não vamos mais fazer isso!”, disse Trump.
Reação chinesa
Apesar da ameaça, um porta-voz chinês disse que uma equipe de Pequim está “se preparando para viajar para os Estados Unidos” para continuar as negociações comerciais e “tentando obter mais informações” sobre o anúncio de Trump.
Geng Shuang se negou a dizer se o principal enviado chinês, o vice-primeiro-ministro, Liu He, iria a Washington, como planejado. Questionado sobre Liu He, Geng disse apenas que uma “equipe chinesa” estava se preparando para viajar.
“O que é de vital importância é que ainda esperamos que os EUA possam trabalhar com a China para se encontrarem no meio do caminho e que se empenhem para alcançar um acordo mutualmente benéfico com base em respeito mútuo”, disse Geng.
O Wall Street Journal havia noticiado mais cedo que a China estava considerando cancelar as reuniões desta semana em Washington diante dos comentários de Trump, que pegaram as autoridades chinesas de surpresa.
Já o banco central da China afirmou nesta segunda-feira que vai cortar a taxa de compulsório para liberar cerca de 280 bilhões de iuanes (US$ 41 bilhões) para pequenos e médios bancos, em uma medida que visa a ajudar empresas com dificuldades em meio à desaceleração econômica.
O corte no volume de dinheiro que os bancos devem manter como reserva será o menor desde janeiro de 2018, quando o Banco do Povo da China deu início à sua mais recente rodada de afrouxamento monetário para sustentar a segunda maior economia do mundo.
Guerra comercial
Autoridades norte-americanas não avaliaram se esperam que as negociações prossigam nesta semana. A Casa Branca e o Escritório do Representante de Comércio dos EUA se recusaram a comentar. O Ministério do Comércio da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Há anos, os EUA reclamam que a China gera ao país um considerável déficit comercial (que é a diferença entre os produtos exportados e os importados entre os países).
Trump também alega que o país asiático rouba propriedade intelectual, especialmente no setor de tecnologia, e viola segredos comerciais das empresas americanas, gerando uma concorrência desleal com o resto do mundo.
Por isso, o combate aos produtos “made in China” é uma bandeira de Trump desde a campanha presidencial de 2016. A meta do governo Trump era reduzir em pelo menos US$ 100 bilhões o rombo com a China.
Só que há controvérsia até no cálculo do tamanho buraco: nas contas de Trump, é de US$ 500 bilhões; nas da China, é de US$ 275,8 bilhões. Já os dados oficiais dos EUA apontam para um déficit de US$ 375 bilhões ao ano.
Em abril do ano passado, os EUA anunciaram tarifas de US$ 50 bilhões sobre 1,3 mil produtos chineses, alegando violação de propriedade intelectual. Em resposta à taxação, a China impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
Desde então, os dois países trocaram ameaças mútuas e agravaram a tensão comercial. O governo chinês acusou os EUA de serem “caprichosos” e alertou que os interesses dos trabalhadores e produtores agrícolas norte-americanos seriam afetados.
Por G1