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Brasileiro em fuga da guerra na Ucrânia filma estação lotada em Kiev: ‘impossível entrar’


Publicado em: 28 de fevereiro de 2022


Engenheiro de MG tentou embarcar para Romênia mas não conseguiu devido à lotação. Ele diz ter sido deixado para atrás por um grupo que deixou o país no fim de semana e afirma que recebeu informação errada do Itamaraty nesta semana. O Itamaraty enviou nota dizendo que “presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país”, sem comentar a reclamação.

Três brasileiros que permaneceram em um hotel no Centro de Kiev, na Ucrânia, à espera de resgate ainda não conseguiram sair do país. Eles, que tentaram fugir da guerra pela Romênia nesta segunda-feira (28), agora tentam uma nova rota em direção à Polônia. Nas redes sociais, David Abu-Gharbil mostrou uma estação de Kiev cheia de pessoas.

“Chegamos na estação de trem. Olha a lotação que tá. Esta é a estação de trem de Kiev, vamos sentido a Ivana Frankivsk [cidade localizada no oeste da Ucrânia]. É gente entrando, gente saindo. Impossível entrar. A gente vai perder esse trem, não tem como entrar, vamos pro próximo”, disse David, que é da cidade de Coqueiral, no Sul de Minas.

No domingo (27), David e mais dois amigos, os jogadores de futsal Jonatan Bruno Santiago, de 30 anos, de Santa Catarina e Matheus Ramires, do Rio Grande do Sul, ficaram para trás após um grupo de mais 50 brasileiros saírem em um comboio de carros próprios rumo a uma estação de trem localizada a aproximadamente dois quilômetros do Opera Hotel na capital ucraniana. Todos já embarcaram no trem rumo a cidade de Chernivtsi, no Oeste da Ucrânia. De lá, pegariam outro trem para Romênia.

No mesmo dia, David contou que um plano de fuga havia sido feito com a embaixada brasileira, mas encontraram os metrôs fechados na manhã desta segunda-feira (28). O plano ‘B’ dos brasileiros é fugir até Ivana Frankivsk. De lá, eles decidiriam como chegar ao Brasil.

O Itamaraty enviou nota dizendo que “presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país”, sem comentar sobre a reclamação.

Ao chegarem na estação de Kiev, os brasileiros encontraram o local cheio e não conseguiram fugir novamente. Em Kiev, o toque de recolher é entre 17h e 8h da manhã do dia seguinte. O fuso horário na capital ucraniana é de 5 horas a mais do que no Brasil.

Informações erradas

O plano ‘A’ dos brasileiros era fugir em sentido à Romênia, mas, segundo David, a embaixada brasileira repassou informações erradas.

“A embaixada falou que iria ajudar, e não ajudou em nada. Só falou pra gente ir até os trens. Até agora o metrô está fechado. Eles deram a informação de que estava aberta e não está, então quem estiver longe e tiver que ir para o metrô não vá, porque não está aberto”, disse David em suas redes sociais.

A estação citada pelo David é a Universytet, no Centro de Kiev. Ele contou que a linha vermelha do trem estava fechada quando chegaram até o metrô.

O plano era que eles saíssem do hotel após o toque de recolher, que vai até às 8h (3h de Brasília) e pegassem um trem que iria para Chernivtsi, cidade no oeste do país, a 535 km da capital ucraniana, nas proximidades das fronteiras com a Romênia e a Moldávia.

“Amanhã às 8h quando liberar, eles vão dar um jeito de vir buscar a gente ou a gente ir pro metrô pra chegar no trem, vamos fazer uma rota”, disse o engenheiro em vídeo nas redes sociais.

Engenheiro mineiro David (à esquerda) e amigos Jonatam e Matheus permanecem em hotel no Centro de Kiev — Foto: Arquivo pessoal

O plano B

Após a primeira tentativa de fuga desta segunda-feira dar errado, David e os outros brasileiros decidiram ir para perto da Polônia.

“Estamos indo a pé a estação de trem. A embaixada não está ajudando ninguém. A principio, nós iríamos para a Romênia, mas não tem mais passagem. A nossa ideia é ir para perto da Polônia. Temos uns conhecidos lá”, diz David.

Em entrevista ao g1 na manhã desta segunda-feira (28), David contou que ainda não há um plano de fuga elaborado, mas eles pretendem chegar até Ivana Frankivsk, cidade localizada no oeste da Ucrânia. De lá, eles irão definir para onde irão.

Deixados para trás

O mineiro David Abu-Gharbil e mais dois amigos, os jogadores de futsal Jonatan Bruno Santiago, de 30 anos, de Santa Catarina e Matheus Ramires, do Rio Grande do Sul, estavam desde sexta-feira (25) no hotel com um grupo de mais 50 brasileiros, entre familiares e jogadores do Dínamo e do Shakhtar Donetsk.

No entanto, na tarde de sábado (26), os jogadores deixaram o hotel e os três brasileiros ficaram para trás.

“Ficou eu, um jogador e mais um brasileiro. Só ficou a comissão técnica deles, que são todos italianos. Foi todo mundo embora. A gente estava o tempo todo junto, e eles simplesmente esqueceram da gente e foram embora”, relatou Jonatam Santiago.

Além dos três brasileiros, há um outro amigo deles que está em um bairro de Kiev, a cerca de 30 quilômetros do hotel. Ele não chegou a ir para o local porque foi parado pelo Exército ucraniano e foi orientado a voltar para casa. Segundo o mineiro David, os amigos não vão deixar ninguém para trás.

“Tem outro amigo nosso brasileiro, o Rony. Nós combinamos que ninguém vai sair deixando alguém para trás, nós vamos todo mundo embora daqui, começamos em quatro, vamos nós quatro até o final, ninguém vai ficar para trás.

27 de fevereiro – Fumaça sobe após bombardeio nos arredores de Kiev, Ucrânia — Foto: Mykhailo Markiv/Reuters

Relatos da guerra

O brasileiro natural de Coqueiral, no Sul de Minas, está relatando todos os momentos vividos por ele e os amigos em Kiev, durante a guerra na Ucrânia. Ele trabalha como engenheiro eletricista no país.

Na noite de quinta-feira (24), ele publicou um vídeo em suas redes sociais logo após a queda de uma bomba em Kiev. Segundo o engenheiro, a bomba caiu a cerca de 2 km de distância do apartamento onde ele mora.

Na sexta-feira (25), David e um outro amigo foram convidados a irem para o hotel onde estavam um grupo de 50 brasileiros, entre eles jogadores brasileiros do Dínamo de Kiev e do Shakhtar Donetsk. A ideia era que todos pudessem conseguir ir embora juntos para o Brasil.

Itamaraty

Em nota ao g1, o Itamaraty informou que segue acompanhando a situação na Ucrânia e presta toda a assistência aos brasileiros que estão no país. (Leia baixo na íntegra)

O Brasil segue acompanhando ativamente a situação na Ucrânia e presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país.

Até o momento, registraram-se junto à Embaixada do Brasil em Kiev cerca de 250 brasileiros. O Itamaraty reitera a importância de que todos os brasileiros se registrem junto à Embaixada, com urgência, a fim de acelerar ao máximo as providências logísticas, de contato e de identificação em curso.

Mais de 40 nacionais lograram embarcar nesta manhã (de sábado) em trem de Kiev para a cidade de Chernivtsi. De lá, seguirão até a fronteira, onde serão recepcionados por funcionários da Embaixada do Brasil em Bucareste, que já estão em contato com o grupo.

Há confirmação de que outros brasileiros, acompanhados de cidadãos latino-americanos, cruzaram o mesmo ponto da fronteira hoje pela manhã e, nesse momento, estão a caminho da capital romena.

O Itamaraty, por meio das Embaixadas do Brasil em Kiev e em Bucareste, está coordenando a operação de retirada dos brasileiros em contato direto com o chefe da estação central de trens de Kiev, das autoridades locais em Chernivtsi e das autoridades migratórias romenas.

Informações atualizadas sobre a evolução do plano de contingência para a evacuação dos brasileiros na Ucrânia encontram-se disponíveis nas páginas eletrônicas da Embaixada em Kiev.