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Caso George Floyd: o que se sabe de Derek Chauvin, policial acusado pela morte que abalou os EUA


Publicado em: 9 de junho de 2020


 

Chauvin é o policial que por quase nove minutos manteve o joelho no pescoço de Floyd, mantendo-o preso no chão enquanto ele suplicava: ‘não consigo respirar’.

O nome de Derek Chauvin está indissociavelmente ligado à onda de protestos que estão abalando os Estados Unidos.

Seu rosto circulou o mundo devido ao vídeo que mostra os últimos minutos da vida de George Floyd.

Chauvin é o policial que por quase nove minutos se manteve ajoelhado no pescoço de Floyd, mantendo-o preso no chão enquanto ele suplicava: “não consigo respirar”.

O episódio fatal, que ocorreu em 25 de maio, perturbou a vida social e política dos Estados Unidos, alimentando o debate sobre o racismo e levantando novos questionamentos sobre a atuação das forças policiais contra a comunidade negra.

Chauvin foi expulso da polícia de Minneapolis, preso e transferido para uma prisão de segurança máxima enquanto enfrenta várias acusações de homicídio.

Na segunda-feira (8), uma primeira audiência judicial do caso foi realizada por videoconferência. Nela, a pedido da Promotoria, foi fixada uma fiança de US$ 1,25 milhão sem condições ou US$ 1 milhão com condições. A próxima audiência está marcada para o dia 29 de junho.

Até 40 anos de prisão

No Estado de Minnesota, a acusação de assassinato em segundo grau exige que o promotor público prove que Chauvin pretendia matar Floyd ou que ele o matou enquanto praticava outro crime. Se provado, pode levar a uma pena de prisão de até 40 anos.

A acusação de homicídio de terceiro grau que ele também enfrenta pune aqueles que, sem intenção de matar, praticam atos obviamente perigosos para outros que demonstram uma “mente depravada, sem respeito pela vida humana”. A punição é de no máximo de 25 anos de prisão.

Em relação à acusação de homicídio culposo em segundo grau, o estatuto de Minnesota estabelece uma sentença de prisão de até 10 anos para quem causa a morte de outra pessoa por negligência, ao criar perigo e risco consciente de causar morte ou grande dano físico a outra pessoa.

A Promotoria também apresentou acusações de cumplicidade e instigação contra os outros três policiais que estavam no local: Tou Thao, Thomas Kiernan Lane e J. Alexander Kueng. Eles também foram expulsos da polícia e detidos.

A partir da esquerda, J. Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, três dos ex-policiais acusados pela morte de George Floyd, em foto de 3 de junho — Foto: Hennepin County Sheriff’s Office via AP

Mas o que se sabe sobre Chauvin, esse ex-policial cujas ações abalaram a sociedade americana?

Muitas queixas, poucas punições

Derek Chauvin, de 44 anos, trabalhou no Departamento de Polícia de Minneapolis por quase 19 anos.

Durante esse período, pelo menos 17 investigações foram abertas sobre suas ações, segundo informações do Departamento de Assuntos Internos da força policial.

No entanto, em apenas dois casos houve consequências para ele: ele recebeu duas cartas de repreensão.

Em teoria, o encerramento dos casos sem sanções indica que as denúncias não puderam ser comprovadas.

Policial foi filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

Embora o número de 17 denúncias possa parecer alto, Maria Haberfeld, que trabalha com questões de treinamento e disciplina policial na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, diz que esse número não é tão grande.

O número médio de reclamações contra Chauvin é inferior a uma por ano, número que não é incomum no caso de policiais que patrulham as ruas, explicou a especialista ao jornal “The New York Times”.

‘Linguagem humilhante’

Mas em que consistiam essas reclamações?

O relatório da polícia de Minneapolis não revela a razão do processo. No entanto, a Communities United Against Police Brutality (Comunidades Unidas Contra a Brutalidade Policial), uma ONG de Minneapolis que mantém seu próprio registro de alegações de abuso policial, oferece um pouco mais de informação.

Esta organização registra um total de dez casos em que Chauvin está envolvido. Em sete deles, de acordo com a ONG, que terminaram sem a aplicação de qualquer medida disciplinar, as causas não foram especificadas.

Nos outros três, que apontam que o ex-policial recebeu uma repreensão de seus superiores, os motivos são o uso de linguagem e tom humilhantes.

A imprensa americana dá detalhes sobre um caso de 2008 em que Chauvin atendeu a um chamado sobre violência doméstica e acabou atirando e ferindo o suposto agressor, identificado como Ira Latrell Toles.

Segundo a versão da imprensa local, Chauvin entrou no banheiro da casa e lutou com Toles, que supostamente pegou a arma do policial – que acabou atirando no abdômen de Toles enquanto eles estavam lutando.

Entrevistado pelo site The Daily Beast, Toles disse que os policiais entraram no apartamento sem aviso prévio naquela noite, então ele correu para se esconder no banheiro, onde, segundo a versão dele, “Chauvin entrou e começou a bater” e disse que ele respondeu da mesma maneira.

Toles, no entanto, diz que não se lembra de pegar a arma ou da hora em que foi baleado.

Após o incidente, de acordo com a versão do The Daily Beast, Chauvin e os demais agentes que participaram foram dispensados ​​enquanto uma investigação interna era realizada. Depois foram incorporados ao serviço novamente.

Um chefe de segurança ‘rude’

Paralelamente ao trabalho policial, Chauvin trabalhou por cerca de 16 anos como gerente de segurança da boate El Nuevo Rodeo em Minneapolis, um lugar onde George Floyd também teve um emprego, embora não esteja claro se eles chegaram a se conhecer.

A ex-proprietária do local, Maya Santamaría, disse ao jornal “Star Tribune” que Chauvin trabalhava lá quase todo fim de semana e se tornou a principal pessoa encarregada da segurança.

Santamaría garantiu que ela e Chauvin eram amigos, apesar de ter tido que chamar sua atenção devido a reclamações de clientes.

Ela observou que Chauvin ficava agressivo com facilidade e não se sentia confortável às terças-feiras, quando a boate ficava lotada principalmente de clientes negros.

“Eu o vi em ação. Eu o vi perder (o controle) e chamei sua atenção. Eu disse a ele que o modo como ele se comporta às vezes é desnecessário e injustificado. Ele simplesmente perdia o controle”, disse ele.

Apesar desse histórico, Santamaría garante que, quando viu o vídeo da prisão de Floyd, não conseguia acreditar que Chauvin estava agindo daquela maneira.

“Eu gritava no meu telefone, dizendo a Chauvin para libertá-lo. É horrível. Não há palavras para descrever. Conhecendo Chauvin, não consigo acreditar que não teve a humanidade de escutar aquele pobre homem suplicando para respirar e sobreviver”, disse Santamaría à CNN.

Vendedor imobiliário

Além do campo da segurança, Chauvin trabalhava como vendedor de imóveis, para o qual possuía uma licença registrada com um endereço na cidade de Apple Valley, localizada a cerca de 30 quilômetros de Minneapolis, de acordo com o “Star Tribune”.

Essa licença, no entanto, não está ativa, o que sugere que ele provavelmente não estava trabalhando naquele setor recentemente.

Quem se dedica ao ramo dos imóveis é a esposa do ex-policial, Kellie Chauvin.

Eles se casaram em junho de 2010, mas agora caminham para o divórcio. Segundo um comunicado divulgado em 30 de maio pelo escritório de advocacia Sekula, Kellie Chauvin solicitou o fim da união e ficou “arrasada” pela morte de George Floyd.

“Houve uma ruptura irreparável do relacionamento conjugal”, de modo que “o casamento não pode ser salvo”, argumenta-se na petição de divórcio.

O documento, obtido pela BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, aponta que o casal não tem filhos em comum e possui duas casas, uma em Oakdale (Minnesota) e a outra em Windermere (Flórida).

Segundo Kellie disse ao site TwinCities.com em 2018, o casal se conheceu em um dia em que Derek foi levar um detento para um exame de saúde em um hospital onde ela trabalhava.

Depois de levar o suspeito, Derek voltou ao hospital e a convidou para sair.

O agora ex-policial é seu segundo marido.

Em entrevista realizada por ocasião de sua candidatura a um concurso de beleza de Minnesota em 2018, Kellie disse: “Por trás de todo esse uniforme, ele é apenas um homem gentil. Ele é tão cavalheiro. Ele ainda abre a porta para mim e coloca meu casaco”.

“Depois do meu divórcio, eu tinha uma lista de demandas para o caso de eu entrar em um novo relacionamento e ele cumpria todas elas”, acrescentou.

Mas esses foram outros tempos. De acordo com os documentos do divórcio, Kellie planeja mudar seu nome e disse que não pretendia solicitar nenhum tipo de pensão, rompendo assim todos os vínculos entre eles.

Enquanto isso, Chauvin aguarda julgamento na Prisão Estadual de Oak Park Heights, a prisão de maior segurança de Minnesota.

Apesar da indignação nas ruas e da reação enfurecida ao vídeo da morte de George Floyd, o procurador-geral do Minnesota, Keith Ellison, alertou que não será um caso fácil e que sua equipe está trabalhando muito.

“A razão pela qual isso é importante é porque cada elo da cadeia de acusações deve ser forte. Conseguir uma condenação será difícil”, disse ele na quarta-feira, observando que apenas um dos atuais promotores naquele Estado já conseguiu condenar um policial.