- Crédito da Foto: Reuters - Publicado em: 25 de fevereiro de 2022
A escalada ofensiva de Vladimir Putin contra a Ucrânia fez novas vítimas, na madrugada desta sexta-feira (25). Kiev, a capital, despertou sob uma chuva de mísseis. As sirenes do ataque aéreo soaram na cidade de 3 milhões de pessoas, muitas delas abrigadas nas estações de metrô, um dia após o presidente russo iniciar a invasão ao país, diante da perplexidade e indignação do mundo. Esta é a maior investida, desde a Segunda Guerra Mundial, que um país europeu faz contra outro do mesmo bloco.
De acordo com a sucursal da agência de notícias Reuters em Kiev, o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pediu à comunidade internacional que imponha sanções mais severas à Rússia, porque as anunciadas, até agora, disse ele, não foram suficientes para frear a sanha de Putin.
Autoridades ucranianas relataram que uma aeronave russa havia sido abatida, durante a noite, chocando-se contra um edifício de Kiev. O prédio pegou fogo e deixou como saldo oito pessoas feridas. Segundo a Reuters, um alto funcionário ucraniano disse que as forças russas devem entrar em áreas fora da capital ainda hoje e que as tropas ucranianas, apesar da desvantagem numérica, defendem posições em quatro frentes.
Com o ataque desta madrugada, janelas foram destruídas em um bloco de apartamentos de dez andares, perto do aeroporto principal de Kiev, onde uma cratera de 2 metros se abriu. O buraco, que está cheio de escombros, mostra o local atingido pelo disparo de artilharia. Um policial informou que, nesta zona, a ofensiva deixou feridos, mas que ninguém havia morrido. Como podemos passar por isso no nosso tempo? O que devemos pensar? Putin deveria queimar no inferno junto com toda sua família, disse Oxana Gulenko, enquanto limpava estilhaços de vidros de seu quarto.
Testemunhas relataram que grandes estrondos puderam ser ouvidos em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, localizada perto da fronteira com a Rússia. Sirenes de ataque aéreo também soaram sobre Lviv, no Oeste. As autoridades informaram, ainda, que houve fortes combates na cidade de Sumy, situada no Leste do país. Enquanto explosões e tiros abalavam as grandes cidades ucranianas, milhares de pessoas fugiram. Conforme a Reuters, dezenas foram consideradas mortas.
CHERNOBYL
Tropas também russas capturaram a antiga usina nuclear de Chernobyl, ao norte de Kiev, enquanto marchavam sobre a cidade procedente da antiga Bielorrúsia. A agência nuclear ucraniana disse que registrou aumento dos níveis de radiação na extinta usina, que, no dia 26 de abril de 1986, foi palco do maior acidente nuclear da História.
De acordo com Volodymyr Zelensky, as tropas russas estavam atrás dele. O presidente ucraniano, no entanto, prometeu permanecer em Kiev. Por mensagem de vídeo, ele disse que o inimigo o marcou como alvo número um e que sua família era o alvo número dois. Eles querem destruir a Ucrânia politicamente, destruindo o chefe de Estado, afirmou.
Na quinta-feira (24), Vladimir Putin deu sinais claros de que não recuaria frente a qualquer sanção imposta pelo mundo. O governante, que chegou a ameaçar todo e qualquer país que tentasse intervir no conflito, ordenou a invasão da Ucrânia por terra, ar e mar, após a declaração de guerra. Putin alega que a Ucrânia é um Estado ilegítimo fora da Rússia. Os ucranianos, por sua vez, veem a declaração do presidente russo como uma tentativa de apagar sua história, que data de mais de mil anos.
Conforme a Reuters, os objetivos do líder russo seguem obscuros. Putin afirma que não planeja uma ocupação militar, ressaltando que quer, apenas, desarmar a Ucrânia e depor seus governantes. Não está claro, no entanto, como um líder pró-russo poderia ser instalado sem que o país exercesse controle sobre grande parte do território ucraniano. Até o momento, a Rússia não indicou nomes e ninguém se apresentou.
REAÇÃO DA POPULAÇÃO RUSSA
Durante meses, Moscou negou planejar a invasão a Ucrânia. Por isso, a notícia de que Putin ordenou o ataque também chocou os russos. Segundo a Reuters, a população do país, que tem muitos amigos e familiares em solo ucraniano, estava acostumada a ver seu governante como um estrategista cuidadoso.
No poder há mais de duas décadas, Putin reprimiu a dissidência interna, especialmente no último ano. Seus principais inimigos políticos foram presos ou fugiram. A mídia estatal também lançou propagandas massivas, caracterizando a Ucrânia como uma ameaça à Rússia. Mesmo assim, milhares de russos saíram às ruas, em protesto contra o ataque. A polícia russa reagiu, efetuando, rapidamente, centenas de prisões.
Uma estrela pop, diz a Reuters, postou um vídeo no Instagram se opondo à guerra. O chefe de um teatro estatal de Moscou decidiu renunciar. Ele afirmou que não aceitaria seu salário de um assassino.
A Ucrânia, que é uma nação democrática composta por 44 milhões de pessoas, votou pela independência, quando a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) caiu, no dia 8 de novembro de 1991. Recentemente, o país intensificou os esforços para aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aliança militar ocidental e também à União Europeia. As aspirações ucranianas enfureceram Putin.
Ontem, os países ocidentais anunciaram uma série de sanções financeiras à Rússia, muito mais severas do que as anunciadas anteriormente. As punições incluem a colocação dos bancos russos em listas negras e a proibição de importação de tecnologia.
Não anunciaram, entretanto, medidas mais duras, como a exclusão da Rússia ao sistema SWIFT para pagamentos bancários internacionais. Conforme a Reuters, o fato gerou uma forte reação de Kiev. O governo ucraniano criticou, duramente, a ausência de medidas mais sérias, que, no entendimento de Zelensky, precisam ser adotadas com urgência.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) deve votar, ainda nesta sexta-feira, uma proposta de resolução que condena a invasão e exige a retirada imediata das tropas russas do território ucraniano. A Reuters reportou, contudo, que a Rússia tem poder de veto sobre a medida e que a China, que assinou tratado de amizade com o país do leste europeu há três semanas, recusou-se a descrever as ações de Moscou como invasão.
A guerra entre os dois países e as sanções impostas pelos países ocidentais devem afetar duramente as economias de todo o mundo. Isto porque a Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo. Cerca de 40% da Europa depende, por exemplo, do gás produzido pelo país. Além disso, tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão entre os maiores exportadores de grãos do planeta.
Os reflexos do conflito foram imediatos. Os preços do petróleo e dos grãos aumentaram instantaneamente. Nesta sexta-feira, diz a Reuters, os mercados de ações de todo o mundo estão, em sua maioria, se recuperando.