Publicado em: 28 de maio de 2021
Diretor do Instituto Butantan também disse que o Brasil poderia ter sido o primeiro país a começar a imunização contra a Covid-19
A CPI da Pandemia ouviu na quinta-feira (27) o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. O Butantan é responsável pela produção no Brasil da Coronavac, vacina contra a Covid-19 mais aplicada até o momento em brasileiros.
Durante a oitiva, o cientista afirmou que, após a manifestação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 20 de outubro contra a compra da Coronavac, não foram feitos progressos nas negociações até janeiro de 2021.
De acordo com o diretor do Instituto Butantan, foram feitas três propostas em 2020 para o fornecimento da Coronavac ao Ministério da Saúde: em julho, agosto e outubro.
Ainda segundo ele, o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a imunização contra o novo coronavírus se “houvesse agilidade de todos os atores” envolvidos na questão regulatória e contratual das vacinas.
A fala de Dimas Covas contradiz o que foi dito pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI. Na sessão do dia 19 de maio, o militar informou aos senadores que o chefe do Executivo nunca o orientou a desfazer a compra dos imunizantes.
“Nunca o presidente mandou eu desfazer qualquer contrato com o Butantan. Nenhuma vez”, disse o general na ocasião.
Ainda no depoimento desta quinta, Dimas Covas afirmou que não houve ajuda financeira ao Butantan por parte da União, ressaltou que declarações de membros do governo dificultam negociações de insumos com a China e informou que o Instituto pode atrasar a entrega de 100 milhões doses da vacina previstas para o mês de setembro.
Até meados de maio, cerca de 70% das doses contra a Covid-19 aplicadas no Brasil eram da Coronavac.
Professor titular de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Covas está à frente do Instituto Butantan desde 2017. Em junho de 2020, foi o responsável pelo acordo de colaboração firmado com a farmacêutica chinesa Sinovac para o desenvolvimento clínico do imunizante contra o novo coronavírus.
Resumo da CPI da Pandemia:
Dimas Covas detalha período em que negociações ficaram travadas
Volume 50% Durante a oitiva, o presidente do Instituto Butantan recapitulou as datas de negociação de compra da Coronavac e disse que chegou a participar de três reuniões com o Ministério da Saúde. Segundo ele, as tratativas para a compra da vacina Coronavac pararam a partir do dia 20 de outubro.
“Em outubro eu fui três vezes ao Ministério da Saúde, com técnicos e Pazuello para construirmos instrumento jurídico pra tentar uma Medida Provisória nos moldes do que foi feito com a Fiocruz. A partir do dia 20 essas tratativas simplesmente pararam. No dia 20 foi a reunião de anúncio [da aquisição da Coronavac] com governadores e lideranças políticas. Seria até uma comemoração capitaneada pelo então ministro da Saúde” disse Covas.
No mesmo dia 20 de outubro, Bolsonaro, em fala com jornalistas e apoiadores, disse que havia “mandado cancelar” a compra do imunizante. No dia seguinte, em 21 de outubro, o então ministro Eduardo Pazuello, que havia testado positivo para a Covid-19, disse a frase “um manda e outro obedece” ao lado de Bolsonaro em vídeo postado nas redes sociais.
Segundo Covas, as tratativas para a compra da Coronavac ficaram paralisadas por três meses – um contrato posterior de 46 milhões de doses foi firmado no dia 7 de janeiro. Inicialmente, o primeiro contrato previa 100 milhões de doses, o que proporcionaria a imunização de até 50 milhões de brasileiros.
CNN