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Embaixador da Venezuela na ONU diz que governo Maduro derrotou ‘tentativa de criar guerra civil’


Publicado em: 30 de abril de 2019


 

Opositor Leopoldo López entrou na residência do embaixador chileno em Caracas após aparecer liderando protestos com Juan Guaidó. Dia teve protestos e confronto com forças de segurança.

 

O embaixador da Venezuela na Organização das Nações Unidas (ONU), Samuel Moncada, disse em Nova York, nesta terça-feira (30), que “o governo do presidente Nicolás Maduro derrotou todas as tentativas de criar uma guerra civil” em seu país, referindo-se à movimentação liderada pelo oposicionista Juan Guaidó para tentar derrubar o regime chavista.

A convocação do presidente autoproclamado levou a confrontos entre civis e forças de segurança nesta terça. A imprensa local cita 57 feridos em Caracas, capital venezuelana.

Enquanto o chanceler de Maduro se pronunciava em Nova York, o ministro das Relações Exteriores chileno, Roberto Ampuero, confirmou que outro líder da oposição venezuelana, Leopoldo López, se encontrava na residência da missão diplomática do Chile em Caracas, acompanhado por sua mulher e uma filha do casal.

“Lilian Tintori e sua filha entraram como convidadas na residência da nossa missão diplomática em Caracas. Há alguns minutos, seu marido, Leopoldo López, juntou-se à família naquele lugar. O Chile reafirma compromisso com os democratas venezuelanos”, escreveu.

López foi libertado de prisão domiciliar esta manhã quando alguns militares se juntaram aos oposicionistas liderados pelo autoproclamado presidente interino Guaidó. Esses militares e uma multidão de opositores tentaram, pela manhã invadir a base aérea conhecida como La Carlota, a mais importante do país.

O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, afirmou que o governo e todas as instituições conseguiram derrotar mais uma tentativa de tomar o poder. O embaixador ressaltou que nenhuma vida foi perdida durante os confrontos desta terça-feira e que o que aconteceu foi uma “operação midiática”.

Moncada disse ainda que o que aconteceu na Venezuela nesta terça-feira foi um típico golpe articulado pelos Estados Unidos na América Latina, mas que, desta vez, a ação fracassou.

Outro sinal de que a tentativa de derrubar Maduro não alcançava seu objetivo foi a confirmação, esta tarde, pelo porta-voz da Presidência brasileira, Otávio Rego Barros, de que 25 militares venezuelanos pediram asilo na embaixada brasileira na Venezuela.

O paradeiro de Guaidó não estava claro no final da tarde de terça. Mais cedo, o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, alertou que o Ministério Público está juntando provas contra os “reincidentes nesta tentativa de atividade conspiratória à margem da legalidade”.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse ao jornalista Wolf Blitzer, da CNN, que Maduro estava pronto para deixar o país nesta terça-feira, mas foi convencido a ficar pela Rússia. Segundo Pompeo, “Ele tinha um avião na pista, estava pronto para partir esta manhã até onde sabemos e os russos indicaram que ele deveria ficar…ele estava indo para Havana”. A informação, porém, não foi confirmada.

Entenda o que aconteceu hoje na Venezuela

O que aconteceu até agora

  • Presidente autoproclamado Juan Guaidó convocou população às ruase disse ter apoio de militares para a fase final da chamada Operação Liberdade.
  • Presidente Nicolás Maduro afirmou ter conversado com todos os comandantesdas chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral), que, segundo ele, manifestaram “total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria”.
  • Líder da oposição Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após decisão sob o regime de Maduro, foi liberadoe circulou pelas ruas ao lado de Guaidó. Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores chileno confirmou que López está na residência da missão diplomática do Chile.
  • Diosdado Cabello, que comanda a Assembleia Constituinte pró-Maduro, convocou apoiadores do governoa se dirigir para o Palácio presidencial de Miraflores.
  • Policiais dispararam bombas de gás contra manifestantesem Caracas. Segundo TV estatal, eles tentaram dispersar “golpistas”.
  • Brasil, Estados Unidos e Colômbia disseram estar contra Maduro. O presidente Jair Bolsonaro reafirmou apoio a Guaidóe disse que o Brasil “acompanha com bastante atenção” a situação.
  • O vice-presidente Hamilton Mourão disse que crise chegou ao limitee que ou Guiadó será ou preso ou Maduro vai embora.
  • 25 militares venezuelanos, nenhum de alta patente, pediram asilo na embaixada brasileiraem Caracas.
  • O presidente americano, Donald Trump, postou em rede social mensagem na qual diz acompanhar de perto a situação e que “os Estados Unidos apoiam o povo da Venezuela e a sua liberdade”.
  • Cuba, Bolívia e Rússia criticarama ação de Guaidó.
  • O embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, disse que o governo Maduro derrotou “tentativa de criar guerra civil”.

‘Operação Liberdade’

Pela manhã, Guaidó convocou a população às ruas e declarou ter apoio de militares para pôr fim ao que ele chama de “usurpação” na Venezuela.

“Povo da Venezuela, começou o fim da usurpação. Neste momento, me encontro com as principais unidades militares da nossa Força Armada, dando início à fase final da Operação Liberdade”, disse em uma rede social.

Ele fez uma pronunciamento diante de manifestantes. “Hoje, já sabemos que todos os venezuelanos estão a favor da mudança e sabemos que o povo, incluindo as Forças Armadas, estão a favor da Constituição. Os soldados em Caracas e em todo o país estão do lado da Constituição e contra a ditadura”, afirmou.

Em seguida, Maduro disse ter a lealdade de militares e convocou uma mobilização social. Em Caracas, manifestantes entraram em confronto com as forças de segurança.

“Nervos de Aço! Conversei com os comandantes de todas as REDI e ZODI do país, que me manifestaram sua total lealdade ao povo, à Constituição e à Pátria. Convoco a máxima mobilização popular para assegurar a vitória da paz. Venceremos!” , afirmou Maduro.

Redi e Zodi são as siglas para Regiões de Defesa Integral e Zonas de Defesa Integral, respectivamente.

O ministro da defesa, Vladimir Padrino López, se pronunciou na TV e disse que “este ato de violência foi derrotado. Quase todo esse grupo de uniformizados com armas deixou o distribuidor e foi para a praça Altamira, repetindo 2002 [naquele ano houve um golpe que derrubou Hugo Chávez temporariamente]”.

Ele terminou o pronunciamento dizendo “Chávez vive!”.

Conflitos em Caracas

Ainda pela manhã nesta terça, grupos de manifestantes tentaram entrar na principal base aérea do país, a Generalísimo Francisco de Miranda, conhecida como La Carlota. O local – que fica na região leste de Caracas, a cerca de 13 quilômetros do Palácio Miraflores, sede do governo – foi escolhido como ponto de apoio a Guaidó.

Manifestantes forçaram as grades, mas os militares responderam com disparos de bombas de gás. Carros blindados da polícia também avançavam sobre manifestantes.

Um dos veículos chegou a acelerar sobre a multidão, atropelando pessoas e provocando uma correria que derrubou mais gente perto da La Carlota (veja acima). Logo após o carro avançar, uma chama foi vista sobre o veículo. Não era possível identificar, no entanto, de onde partiu o fogo.

Maggia Santi, diretora do Centro Médico Salud Chacao, disse que 71 pessoas ficaram feridas, sendo 43 atingidas por bala de borracha, duas pessoas feridas por armas de fogo, 21 que sofreram lesões traumáticas, três que tiveram problemas respiratórios, uma pessoa que teve um ferimento na mão e uma que sofreu um desmaio.

Após os conflitos da manhã, já na tarde desta terça, Guaidó escreveu em rede social: “Venezuela: temos em nossas mãos o poder de alcançar o fim definitivo da usurpação. Estamos em um processo que é imparável. Temos o apoio firme de nossa gente e do mundo para alcançar o restabelecimento de nossa democracia. #TodaVenezuelaNaRua”.

Já perto do Palácio Miraflores, uma multidão pró-Maduro fez uma manifestação.

Grupo de Lima

Os governos de Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela, membros do Grupo de Lima, se reuniram por teleconferência nesta terça e emitiram um comunicado, no qual expressaram seu respaldo ao “processo constitucional e popular empreendido pelo povo venezuelano e liderado por Juan Guaidó para recuperar a democracia e rechaçam que o processo seja qualificado como um golpe de Estado”.

O Grupo de Lima também se declarou em sessão permanente e anunciou que irá se reunir presencialmente em Lima, no Peru, na próxima sexta-feira, dia 3 de maio.

Crise na Venezuela

A tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro é o mais recente capítulo na profunda crise política da Venezuela. Há mais de 15 anos, o país enfrenta uma crescente crise política, econômica e social.

A Venezuela vive um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina e do mundo.

Neste mês, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária.

A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob “emergência humanitária complexa”.

 

Por G1