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Empresários avaliam que economia de Feira de Santana pode retroceder dez anos após a pandemia


Publicado em: 26 de maio de 2020


 

‘Se matar o comércio, mata Feira de Santana’, diz empresário. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas fiquem desempregadas por conta do fechamento do comércio.

Um grupo de empresários, de vários segmentos do comércio de Feira de Santana, se reuniu na manhã desta terça-feira (26) para discutir e buscar soluções para conciliar a saúde e a economia da cidade durante o enfrentamento ao novo coronavírus, e na oportunidade participaram do programa Acorda Cidade ao vivo (por telefone) expondo seus posicionamentos acerca das medidas que estão sendo tomadas pela prefeitura.

Eles destacaram a forte e conhecida característica de Feira de Santana como cidade comercial e enfatizaram que descuidar da economia e dos empregos vai afetar gravemente a cidade durante e após a pandemia.

O empresário Luís Mercês, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), declarou que a situação é preocupante, principalmente sobre como estará a vida das pessoas após a pandemia diante do retrocesso econômico. De acordo com ele, a estimativa é de que milhares de pessoas fiquem desempregadas e a ocorrência de um caos social.

“Parar os estabelecimentos comerciais nesse momento eu acho uma atitude equivocada. Porque temos que trabalhar e iremos trabalhar com toda a segurança, com tudo que se pode fazer para manter o emprego com segurança. Mas, o que nós precisamos é manter empregos, a palavra-chave é essa. Não estamos preocupados em manter lucro, ninguém vai ter lucro nesse momento. Temos aí praticamente essa década perdida. Porém a minha preocupação principal é com as pessoas que hoje estão desempregadas”, pontuou.

Luiz Mercês frisou que muitas pessoas ainda estão recebendo o auxílio emergencial do governo, o seguro desemprego, mas outra preocupação é quando esses pagamentos acabarem e o comércio e a indústria não tiverem condições de empregar.

“A gente tem chamado a atenção das autoridades para pensarem no dia seguinte. Porque quando a gente coloca qualquer coisa, as pessoas ficam achando que somos mercenários, que só pensamos em dinheiro. Mas, não é isso. A gente está pensando na saúde das pessoas, mas na saúde econômica, na sobrevivência, porque um pai não conseguir dar o que comer para o filho, é muito duro, então essa é a nossa preocupação”, afirmou

Plano de ação

Segundo Luís Mercês, a proposta do empresariado é que seja feito um Plano de Ação para que todos os estabelecimentos funcionem de forma segura. Isso inclui, a adoção e Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), uso de álcool em gel, maior cuidado com a limpeza e evitar aglomerações e fiscalização dessas ações. Na opinião dele, o comércio não deveria ter sido fechado nem desde o primeiro momento da pandemia. Ele comentou que o fechamento do comércio tem um impacto geral na sociedade, que acaba refletindo no governo.

“Na realidade, nem deveríamos ter fechado no primeiro momento. Isso é uma cadeia muito forte, e com certeza vai cair no colo do governo, porque com as empresas fechadas, elas não estão pagando impostos e quem sustenta toda a máquina, são os impostos. Como será o dia de amanhã? Será que o aposentado vai receber seu dinheiro? Será que o funcionário público vai receber o seu dinheiro? Os impostos estão acabando, as empresas não estão produzindo, se você for comprar daqui a pouco tempo uma TV, você não vai conseguir comprar, porque as indústrias estão fechadas. Estamos à beira de um colapso econômico, a gente precisa reabrir a economia, mas não é reabrir para matar as pessoas, não queremos isso. Queremos abrir com todo nível de segurança possível, com protocolos.”, afirmou.

Dez anos de retrocesso

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), salientou que importante que as autoridades e a população entendam que não trabalhar neste momento de pandemia é a pior escolha que existe. Afeta a sobrevivência das pessoas e a economia pode retroceder em dez anos.

“ A gente tem que chamar o prefeito, todas as pessoas que são pessoas inteligentes para achar um jeito da gente não cair nessa cilada e passar fome, isso é mais grave do que qualquer coisa”, ressaltou.

Shoppings Fechados

Luís Mercês disse ainda sobre o Boulevard Shopping, que está fechado há cerca de 65 dias. Ele observou que os impactos econômicos são imensuráveis e quando for decretada a reabertura, muitos lojistas nem terão condições de reabrir. Ela relatou que este Plano de Ação precisa ser estendido também para os shoppings.

“Hoje temos mais 120 shoppings abertos no Brasil com protocolos muito mais seguros. Hoje o comerciante, tem muito mais cuidado do que o próprio protocolo, porque as pessoas possuem funcionários, são os próprios comerciantes que estão lá dentro dos estabelecimentos e eles não querem ser infectados, eles querem segurança. Fechar por fechar e desempregar, essa é minha preocupação”, enfatizou.

Marcelo Alexandrino, presidente da Associação Comercial de Feira de Santana (Acefs), disse  que o setor empresarial está preocupado com a saúde das pessoas, mas falta planejamento, os decretos governamentais sem programação estão gerando muito problemas.

“Não há um planejamento, não sabemos quando vai ter um fim desse lockdown, porque no fundo, no fundo está sendo isso disfarçado que aconteceu essa semana. Então a gente precisa ter um planejamento do governo estadual, do municipal, para que a gente não sofra mais ainda, porque o desemprego já bateu em nossas portas, as consequências disso na economia serão muito graves. Estamos preocupados com isso, estamos solidários com a população, solidários com os casos, solidários com as mortes. Infelizmente estão acontecendo e se você for parar para pensar nisso, são poucas em um âmbito nacional, âmbito mundial, Feira de Santana está com um número muito bom nesse aspecto, não vamos esquecer que isso é uma pandemia. É grave, porém a gente tem que ter um horizonte disso. Qual é o planejamento do governo estadual, do governo municipal? A gente não está tendo essa visão e não sabemos quando vamos poder retomar as atividades comerciais”, questionou.

Mais de 20 mil pessoas desempregadas

Marcos Silva, vice-presidente do Sindicato Patronal, informou que baseado em estudos dos principais escritórios de contabilidade da cidade, já fala-se em aproximadamente 20 mil pessoas desempregadas e no aumento gradativo desse número.

“Deu um número aproximado de 12%, fizemos uma relação direta e entende-se que Feira de Santana tem na atividade produtiva, umas 300 mil pessoas, então 12% desse total, dá em média 36 mil, o que está sendo mais comprovado. Porque tem muita gente que está afastado, o governo deu essas possibilidades, mesmo perdendo renda, então a gente tá com esse número que não é oficial”, afirmou.

“Hoje o pior setor em uma empresa de contabilidade, é o setor de recursos humanos, porque não consegue saber o que vai acontecer amanhã”, afirmou. Um dos grandes problemas que a gente tem hoje, é a falta de previsibilidade e plano de ação. A gente quer contribuir com a população e a gente sabe que o prefeito por ser médico e sua equipe da área de saúde que é competente, os números que tem em Feira de Santana, são bons, mas precisamos ter uma visão ampla, nesse grupo, tem que ter uma pessoa de logística, tem que ter gente da área produtiva, consultores de empresas, porque quando a gente fala em economia, não é em dinheiro, é em vida, as pessoas precisam de recursos para se sustentarem. A sabe que a doença existe, tem que ser cuidada e no comércio a gente precisa ser bastante rigoroso” finalizou.

Fiscalização

Marcos Silva também defendeu a criação do Plano de Ação para o funcionamento do comércio e de acordo com ele, é preciso que a prefeitura fiscalize todas as atividades da cidade com grande rigor.

“O protocolo é completo, ele engloba toda a cidade, todos os segmentos. A prefeitura tem que utilizar o seu poder de fiscalização, poder de polícia e a gente é parceiro. As entidades estão sendo parceiras nisso, não só na montagem dos planos de protocolos, como na fiscalização também. Não interessa para a gente um aumento da doença, na visão econômica, porque economia é vida, como também em nossa vida pessoal e 95% dos empresários de Feira de Santana trabalham no balcão das suas empresas também e 100% dos empresários locais de Feira de Santana estão em suas lojas, escritórios trabalhando com suas equipes. Não existe essa concepção de economia X saúde”, opinou.

Cenário pós-pandemia

O empresário Nóide Júnior, do setor de bares e restaurantes, relatou que o empresariado pensa em como estará o cenário econômico alguns meses após a pandemia, mesmo com os incentivos do governo federal. A preocupação dele é que chegue o momento que não dê mais para segurar e assim as portas precisem ser fechadas.

“Os incentivos são finitos. Vai chegar a hora que a gente não consegue mais usar desses artifícios para manter os empregos. A gente precisa pensar como vai fazer para não quebrar a empresa, ou não fechar as portas de uma forma que você não tenha como pagar a rescisão dos seus funcionários. A palavra-chave nesse momento é conciliação, saúde com economia. Precisamos conciliar as duas coisas, precisa-se criar um comitê de gestão do órgão público, seria o nosso setor municipal, com todos os setores da sociedade, talvez duas reuniões por semana para se começar a ter uma estratégia de abertura. Pecisamos montar um comitê de empresários juntamente como setor de saúde para que a gente possa ter uma estratégia de abertura com protocolos. O nosso presidente do Sindicato de Bares e Restaurante, Getúlio, já entregou ao prefeito um protocolo de abertura de bares e restaurantes e esse protocolo engloba várias coisas, inclusive 50% de utilização dos salões, presença de álcool gel em todas as mesas, uma série de coisas. Ao total são 15 protocolos. Mas, isso já está na mão do prefeito e nós estamos dispostos a fazer uma estratégia de conciliação entre a economia e saúde”, declarou.

Apoio da população

O empresário Nilton Caribé ressaltou durante entrevista ao Acorda Cidade que é importante que a população não enxergue os empresários como pessoas gananciosas e ruins, mas como pessoas que estão preocupadas com os seus negócios e também em gerar emprego e progresso. Ele ressaltou que toda a sociedade vai sofrer com as atividades econômicas paradas, e pediu que a população colabore para que as atividades sejam retomadas com todo os cuidados.

“Quando você fecha o comércio no centro da cidade, ocorre aglomeração nos bairros. As pessoas não se conformam de ficar dentro de casa e isso gera inclusive problemas de depressão, angústia, problemas de saúde sérios. Quando o comércio funciona, as pessoas vão ao comércio, vão andar, vão espairecer a mente, vão encontrar com outras pessoas, trocar ideias. Isso também faz parte da saúde pública. Pedimos que a população nos ajude nessa luta para que a gente possa voltar às nossas atividades com muita responsabilidade, cuidado e preservando sempre a saúde e os empregos. Feira, é a cidade número 1 do comércio no Brasil e ela merece ter um pouco mais de carinho por parte dos nossos governantes. Que essa pandemia possa acabar o mais breve possível, mais rápido não só em Feira, mas em todo o mundo e quando isso passar, que nós possamos levar a vida com mais alegria e satisfação”, afirmou.

“Se matar o comércio, mata Feira de Santana”

Manoel Neto, que é empresário do segmento de varejo comentou, durante a entrevista ao Acorda Cidade que é muito triste assinar uma rescisão de um funcionário que trabalha há anos em uma empresa. Ele disse que o desemprego desse funcionário impacta toda a sua família e consequentemente o comércio da cidade.

“É muito triste empresário demitir. Ele não demite porque ele acha bonito, ele demite porque ele não está aguentando mais. A gente precisa de uma decisão do poder público de ter uma ideia do que vai acontecer daqui pra frente. Não estamos preocupados com lucros, é um absurdo se pensar nisso agora. Queremos manter empregos, mantendo empregos, mantemos nossa cidade. Feira vive do comércio, Feira cresceu do comércio, Feira precisa do comércio. O que sustenta Feira é o comércio. Feira não é turismo. Se você matar o comércio, você mata Feira de Santana. Fico triste em saber que as pessoas demitiram funcionários de muitos anos, que lá na frente, infelizmente, vai faltar o pão de cada dia. Que nossas autoridades olhem com um olhar mais amoroso para o nosso pessoal e possa reativar o comércio de maneira responsável”, frisou.

Cidade comercial de Feira de Santana

O empresário Marcos Silva relembrou na entrevista ao Acorda Cidade, sobre a Lei Provincial 1320 de 1873, que mudou o nome de Feira de Santana de vila, para Cidade Comercial de Feira de Santana. Ele frisou que o comércio faz parte da identidade da cidade e por isso é importante enxergá-lo como fundamental para a vida das pessoas.

“Feira tem o comércio na sua certidão de nascimento. Veja que coisa interessante como é forte e importante para a vida das pessoas, o comércio. Estamos para contribuir, sentar com o comitê gestor de saúde, oferecer nossa contribuição. Estamos de forma humilde para contribuir com o processo e estabelecer imediatamente um plano de ação”, finalizou.

O empresário do segmento de combustíveis Raimundo Catarino, declarou que sente falta de pesquisas que confirmem que realmente seja necessário fechar o comércio da cidade. Na opinião dele,o ideal é que fosse feito um estudo de comparativo da quantidade de óbitos no mesmo período do ano passado em relação a esse ano.

“Para se saber realmente se houve aumento ou não de óbitos nesse momento. Daria para sentir uma noção profunda e realista. Em cima disso, cria uma estrutura em cima também das pessoas que estão envolvidas diretamente no processo. São frentistas, enfermeiros, policiais, motoristas e cobradores de ônibus e outros segmentos que estão trabalhando. Não se vê um estudo em cima disso, não foi feito esse estudo para se ter uma realidade dessa pandemia. Por que então chegar a sacrificar todo o comércio ao invés de deixar as pessoas que agora vão começar a morrer de fome e da violência, que é consequência disso aí. Você vê um município que recebeu 55 milhões de reais agora e pra gente se sacrificar em um segmento da vida, porque saúde é vida, mas o trabalho também é”, concluiu.

Por Acorda Cidade