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Especialistas: Mercosul terá dificuldade de combater coronavírus


Publicado em: 20 de fevereiro de 2020


ANÁLISE

Para médicos, é de extrema importância a coordenação de esforços entre os países da Mercosul para conter o coronavírus, mas não se deve esquecer de doenças endêmicas que já atingem a região.

Os ministros dos países membros do Mercosul se reuniram nesta quarta-feira no Paraguai para discutir medidas de prevenção a serem adotadas na América do Sul em razão da expansão de casos de contaminação relacionados ao coronavírus.

Na ocasião, também foram discutidas ações para a dengue e sarampo, doenças que vêm causando vítimas entre os países-membros do Mercosul.

Segundo o ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, como o país tem milhares de quilômetros de fronteira, é muito importante que as nações vizinhas acionem sistemas de vigilância. Anteriormente, o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) promoveram a capacitação técnica de representantes de 9 países das Américas do Sul e Central para o diagnóstico laboratorial do novo coronavírus.

Qual é a importância de uma ação coordenada entre os países em situações como essa?

Para Amaro Neto, médico com especialização em infectologia e anatomia patológica, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é importante elaborar uma abordagem conjunta para o coronavírus, mas também é muito importante não esquecer da volta do sarampo ao Brasil, bem como de outras doenças endêmicas.

“A gente não pode esquecer das principais doenças endêmicas que ocorrem em toda a América Latina. A dengue já é um problema endêmico anual no Brasil e na América Latina”, disse o especialista para Sputnik Brasil.

O cientista destacou que a preocupação com coronavírus é óbvia. O sarampo e a dengue possuem taxas de mortalidade muito mais baixas, do que a doença que surgiu na China. Por outro lado, lembra o médico, a febre amarela tem uma taxa de mortalidade muito mais alta, que varia de 30 a 50%.

“Por isso esse tipo de reunião é muito importante”, afirmou Neto. O médico lembra que “a febre amarela reuniu diversos países da América para o controle” da doença, o que foi um marco histórico no controle de enfermidades, bem como “para a realização de troca de tecnologia e a elaboração de protocolos de controle e detecção de doenças na região”.

Os países sul-americanos, em particular os do Mercosul, estão preparados para combater o vírus na região?

Ester Sabino, infectologista, professora da Faculdade de Medicina da USP acredita que, se a doença chegar até a América do Sul, o combate será difícil.

“Responder a epidemias sempre é difícil, quando o sistema de saúde já está no limite”, disse a especialista para Sputnik Brasil. Ou seja, a melhor forma seria conter o vírus na China ou desenvolver uma vacina para controlar a doença.

De todo modo, a médica reconhece a importância da discussão no âmbito da Mercosul, “para se tomar atitudes semelhantes em todos os lugares”.

Ela destacou a extrema importância de fortalecer instituições como Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para o controle de doenças não acontecer somente quando ocorre uma epidemia, mas sempre, de modo preventivo e de “modo a definir as políticas a longo prazo”.

“É importante defender essas organizações que definem as políticas a longo prazo. Isso é mais importante do que fazer reunião no momento da emergência”, concluiu Ester Sabino.

Sputnik Brasil