Publicado em: 14 de abril de 2019
Ministro afirma, nos Estados Unidos, que presidente já disse não ser um especialista em economia e que uma conversa resolve tudo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou neste sábado, 13, que é possível consertar caso o presidente Jair Bolsonaro faça alguma coisa “que não seja razoável” na economia. “Uma conversa conserta tudo”, afirmou o ministro, em Washington, nos Estados Unidos.
A fala veio um dia após Bolsonaro admitir que interferiu no reajuste de preços do diesel, ao telefonar para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e pedir para cancelar o reajuste de 5,7%. As ações da companhia despencaram e a empresa perdeu 32,4 bilhões de reais em valor de mercado em um dia.
Na sexta-feira, Guedes sugeriu que não havia sido informado pelo presidente sobre a decisão. Hoje, após insistência de jornalistas, o ministro afirmou que Bolsonaro já disse que não é um especialista em economia e que o presidente deve ter se preocupado com efeitos políticos.
“O presidente já disse para vocês que ele não era um especialista em economia. Então, é possível que alguma coisa tenha acontecido lá. Ele, ao mesmo tempo, é preocupado com efeitos políticos. Estamos falando em greve de caminhoneiro, esse tipo de coisa. Então, é possível que ele esteja lá tentando manobrar com isso”, disse o ministro da Economia, após sair de evento do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Questionado, na sequência, sobre que tipo de mensagem o governo passa ao ceder rapidamente a uma demanda dos caminhoneiros, ele respondeu: “Eu vou me informar. E eu concordo com suas preocupações”. Segundos depois, já de dentro do carro, em frente ao FMI, o ministro chamou os jornalistas para complementar: “Ao mesmo tempo em que eu concordo com suas preocupações e indagações, eu acho que o presidente tem muitas virtudes. Fez muita coisa acertada, e ele já disse que não conhece muito economia. Se ele, eventualmente, fizer alguma coisa que não seja razoável, eu tenho certeza que nós conseguimos consertar. Uma conversa conserta tudo”.
A entrevista com Guedes foi feita enquanto o ministro caminhava, de maneira apressada, na saída do FMI. Ele evitou responder às primeiras perguntas sobre o tema. Questionado, por exemplo, se era contraditório que um governo com política econômica liberal tenha feito uma intervenção nos preços de combustível, ele retrucou: “Eu não vou dizer isso que você está pedindo”.
Guedes afirmou que as conversas nos Estados Unidos têm sido importantes para debater “como é que vão ser as coisas daqui para a frente no Brasil”. O ministro da Economia esteve em Nova York na quarta-feira e em Washington desde então, onde participa de reuniões e encontros com investidores, economistas e ministros de outros países.
“Nós estamos conseguindo reverter uma imagem ruim”, disse Guedes, que afirmou ter se reunido com “excelentes interlocutores”, como a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, com integrantes do Banco Mundial, Tesouro norte-americano, presidente do Federal Reserve e presidentes de bancos centrais.
“O Brasil vai progredir rapidamente em vários frontes. Aí tem uma notícia lá embaixo que eu não estava lá e não sei o que houve exatamente. Eu prefiro não comentar, só isso, eu prefiro me informar melhor. Evidente que houve um efeito ruim lá embaixo e estou preferindo trabalhar nos frontes onde eu consigo construir alguma coisa”, afirmou o ministro.
Ele disse que também teve conversas sobre a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na visita de Bolsonaro aos EUA, o presidente americano, Donald Trump, se comprometeu com o endosso da candidatura do Brasil à organização, um pleito da equipe econômica.
Estadão Conteúdo