Publicado em: 23 de novembro de 2021
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou a permanência do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, no poder do país latino-americano com a da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, que completou 16 anos à frente do país europeu. Ortega foi reeleito em uma eleição de fachada.
“Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Por que o Felipe González [primeiro-ministro da Espanha entre 1982 e 1996] pode ficar 14 anos no poder? Qual é a lógica?”, questionou Lula durante entrevista ao jornal espanhol El País.
A fala ocorreu durante uma resposta do ex-presidente sobre a situação na Nicarágua. No início de novembro, Daniel Ortega ganhou a eleição em que disputou e chegou ao quarto mandato consecutivo. No pleito, ele concorreu com outros cinco candidatos, todos aliados do seu governo.
Lula começou afirmando que “todo político que começa a se achar imprescindível ou insubstituível começa a virar um pequeno ditador”. “Por isso sou favorável à alternância de poder. Eu posso ser contra, mas eu não posso ficar interferindo nas decisões de um povo. Nós temos que defender a autodeterminação dos povos”.
Na sequência, fez comparação com líderes europeus. As jornalistas que conduziam a entrevista lembraram, contudo, que os dois permaneceram no poder sem “encarcerar opositores” – o regime de Ortega prendeu sete candidatos de oposição nos meses que antecederam a eleição.
“Eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil, eu fui preso, eu era considerado Presidente da República eleito e fui preso. Fiquei 580 dias na cadeia para que Bolsonaro fosse eleito”, afirmou Lula, em resposta.
Eu não sei o que as pessoas fizeram para ser presas. […] Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não disputar a eleição como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado”, completou.
Com a fala, Lula vai na linha da posição do seu partido, que publicou nota celebrando a reeleição do ditador. O texto foi assinado por Romenio Pereira, secretário de Relações Internacionais. Na legenda, a nota classifica o pleito como “uma grande manifestação popular e democrática” e diz que o resultado confirma “o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário”.