Publicado em: 15 de agosto de 2018
Sem maioria no Congresso, conservador assume com o desafio de estabelecer acordos com oposição.
O conservador Mario Abdo Benítez assumiu a presidência do Paraguai nesta quarta-feira (15) em uma cerimônia que contou com a presença de mandatários estrangeiros, entre eles o presidente brasileiro, Michel Temer. Benítez, de 46 anos, substitui Horacio Cartes. Ambos são do Partido Colorado.
Benítez jurou ante o presidente do Congresso, Silvio Ovelar, e recebeu o bastão e a faixa presidencial. Ele assumiu para um mandato de cinco anos, sem possibilidade de reeleição, como estabelece a Constituição do país.
“Missão Cumprida. Obrigado Paraguai”, publicou Cartes ao se despedir em sua conta no Twitter.
Além de Michel Temer, também estavam presentes na cerimônia os presidentes boliviano, Evo Morales; argentino, Mauricio Macri; uruguaio, Tabaré Vázquez; colombiano, Iván Duque; guatemalteca, Jimmy Morales, e de Taiwan, Tsai Ing-wen.
Desafios
Marcado por ser de uma família muito próxima do ex-ditador Alfredo Stroessner, Benítez se esforça para provar suas credenciais democráticas e republicanas.
Sem maioria no Congresso, ele tem o desafio de estabelecer acordos com a oposição. Também terá o desafio de combater a pobreza no país, que afeta 26% dos paraguaios.
Ele foi eleito em abril com a promessa de manter o rumo econômico e atrair mais investimentos ao país latino-americano. O conservador propôs impostos baixos e isenções para estimular o investimento estrangeiro e a produção agrícola do país, quarto exportador mundial de soja e importante produtor pecuário.
Após a eleição, prometeu um governo de união. O ex-senador, formado em marketing nos EUA e conhecido como “Marito”, também disse que quer construir laços com a China sem comprometer o vínculo diplomático com Taiwan.
Divorciado de Fátima María Díaz Benza, com quem teve dois filhos, Abdo se casou novamente com Silvana López Moreira Bo, filha de uma família da alta sociedade de Assunção.
Relações com o Brasil
Benítez diz ter interesse em fortalecer as relações comerciais entre Paraguai e Brasil. Em junho, ele esteve com Temer no Palácio do Planalto, na primeira viagem internacional depois de eleito.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil é o principal parceiro comercial do Paraguai. Em 2017, o intercâmbio comercial entre os dois países alcançou US$ 3,78 bilhões.
Laço com ditadura Stroessner
O jovem conservador tem laços com a última ditadura do país. O pai dele foi secretário privado do ditador Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai com mão de ferro por 35 anos até fevereiro de 1989.
Seu pai foi processado por enriquecimento ilícito. Foi um dos primeiros prisioneiros da democracia que se instalou após a queda de Stroessner, mas finalmente foi absolvido.
“Lamento a parte negra da nossa história, mas, como muitos paraguaios, acho que não deve ser uma desculpa para manter uma divisão entre compatriotas. Eu tinha 16 anos quando Stroessner caiu”, afirmou quando ainda era candidato.
Mas esse passado foi deixado de fora de sua carreira política e da campanha eleitoral, quando se esforçou para provar suas credenciais democráticas e republicanas.
Carreira política
Benítez afirma ter construído uma identidade própria, apesar de sua origem. Juntou-se à militância política dentro do movimento Paz e Progresso, grupo que fundou com nome que leva o lema do governo da ditadura.
Em 2013, foi eleito senador e depois presidente do Congresso em 2015, ano que marcou o ponto de virada e o ponto de ruptura de suas relações com o então presidente Cartes. Em 2017 renunciou ao cargo para levar adiante sua campanha eleitoral.