- Crédito da Foto: Agência Senado - Publicado em: 19 de setembro de 2021
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) tornou-se um dos rostos conhecidos da CPI da Covid, ao usar sua experiência como delegado para inquirir os depoentes. Um dos reflexos dessa atuação foi o lançamento pelo partido de sua pré-candidatura à Presidência da República.
Crítico dos governos do PT e também do presidente Jair Bolsonaro –em quem se arrepende de ter votado e considera uma “ameaça ao avanço civilizatório”–, Vieira quer ocupar um espaço na chamada terceira via, mas critica a busca de um “nome mágico” para unir o bloco, fenômeno que também levou à eleição do atual mandatário.
“Não dá mais para ser figura midiática, personagem de internet, meme ambulante e chegar aqui e não ter condição”, afirmou à reportagem.
O senador também criticou as articulações com velhos caciques de partidos e disse que ex-presidentes “não são fiadores do futuro brasileiro”.
O senador atacou o que chama de abusos de membros do Judiciário, mas poupou os investigadores da Lava Jato, da qual segue um defensor.
Ele ainda minimizou o fato de estar na CPI ao mesmo lado de investigado pela operação, como o relator Renan Calheiros (MDB-AL). “Mas considerar como aliado, não vejo sentido, nem politicamente nem internamente”, afirmou o parlamentar, um dos poucos que não usa carro oficial e se locomove de Uber.
Pergunta – Por que decidiu se lançar candidato a presidente?
Alessandro Vieira – Porque acredito que existe uma lacuna nessa disputa pela terceira via e pautas que não estão sendo faladas pelos principais candidatos e por esses que estão se colocando na terceira via. Então vou destacar três.
A primeira delas é a questão do combate à corrupção. O Brasil está passando por uma espécie de surto coletivo, de fingir que nada existiu: não teve corrupção do PT, continua a não existir corrupção do governo Bolsonaro e isso não é mais um problema. Ninguém fala mais nisso, e você vê a destruição da Lava Jato e outras iniciativas.
Segunda coisa é a urgência de uma política racional e responsável fiscalmente de transferência de renda. A gente teve um aumento na miséria no Brasil que nos jogou dez anos atrás, em um processo gigantesco. Essa turma não vai ser, como diz Paulo Guedes, incorporada em uma retomada em V da economia.
E um terceiro ponto, e um dos que mais me motivam a fazer esse movimento, é a questão da educação, também muito pouco mencionado.
A terceira via tornou-se um balaio muito grande, com muitos nomes, partidos e muita gente querendo usufruir dessa ideia para barganhar. O que faz do sr. diferente?
AV – De barganha, não será de forma alguma. O que é muito claro é que se você quiser fazer uma frente ampla e uma união de terceira via, você tem de partir da premissa que pode retirar a sua candidatura para apoiar alguém.
É construção de uma alternativa de terceira via, o que significa que uma chapa pode não ter o meu nome, não precisa ter o meu nome, mas eu quero que tenha lá as minhas bandeiras.
Mas o sr. já entra pensando em abrir mão?
AV – Não, de forma alguma. A nossa proposta é apresentar o nome, os nossos projetos, deixar que o cidadão possa conhecer.
O Brasil está passando por uma mudança geracional de lideranças. Então quando as pessoas dizem “não tem ninguém na terceira via que se destaca” é porque o povo não conhece suficientemente alternativas, tanto que a gente tem aí situações e eventos com ex-presidentes que são senhores na casa dos seus 70, 80, alguns 90 anos de idade.
Merecem todo o respeito, que têm muita contribuição para dar, mas não são fiadores do futuro brasileiro. Não dá para ser.
A hora é de apresentação. Eu cheguei aqui naquela onda de renovação de 2018 e acho que tenho uma certa obrigação de dar continuidade àquilo, com ajustes e correção de rota.
Não dá mais para ser figura midiática, personagem de internet, meme ambulante e chegar aqui e não ter condição, não ter trabalho, não ter entrega. Isso é o que a gente tem de reverter.
As pesquisas apontam para um reforço da polarização e o enfraquecimento da terceira via. O sr. acredita na viabilidade eleitoral da terceira via e na sua própria?
AV – Nenhuma quantitativa nesse momento vai dar nada significativo para quem está começando a caminhada. Vai ter sempre um destaque muito grande para Lula e Bolsonaro. Vai ter o Ciro [Gomes], que vai para a quarta candidatura presidencial, e ele está ali entre 5% e 10%, dependendo da pesquisa.
E tem um personagem que destoa dessa realidade, que é o Sergio Moro, que não é candidato, não está como político, não está morando no Brasil, mas continua com um desempenho nessa faixa do Ciro.
Como é um nome mais conhecido, ele representa esse sentimento de quem estava acreditando na mudança, no combate à corrupção.
Naturalmente e legitimamente, eu dialogo com esse público, porque é minha história de vida e o meu trabalho.
O sr. critica muito essa polarização Lula-Bolsonaro. Acha que os dois personagens se equivalem?
AV – Não. Quando eu anunciei o voto em Bolsonaro [no segundo turno], eu faço uma análise dos dois projetos.
O projeto do PT, como ele foi executado pela cúpula petista ao longo do governo Lula e Dilma, é um projeto de “corrosão democrática soft”. Você usa a corrupção e o preenchimento de cargos como mecanismo. Mensalão mostrou isso, Lava Jato também. Não é invenção do PT, que registre isso.
O Bolsonaro é outro tipo de ameaça. Além de ameaçar a democracia, ameaça um avanço civilizatório. Mas por que você votou nesse cara? E eu assinalo ainda em 2018 que eu imagino que o sistema vai conseguir restringir esses excessos do Bolsonaro. Onde está meu erro? Eu subestimo o Bolsonaro e subestimo a rápida adesão do Bolsonaro ao próprio PT.
Então, objetivamente: Lula e Bolsonaro são profundamente diferentes. Bolsonaro tem uma característica que Lula não tem: Bolsonaro é profundamente incompetente, é um cara incapaz, não trabalha, trabalha muito pouco ou quase nada.
por Julia Chaib e Renato Machado | Folhapress