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Negligências


Publicado em: 12 de agosto de 2018


 

 

Tantos são os assuntos que ocorrem em nossas vidas diárias em graus diferentes de gravidade, mas nada, nada se compara àqueles que dizem respeito à perda dos nossos entes queridos. Essa é a dor mais doída, mais pesada, mais funda, a que mais nos marca, nos ensina e não desaparece nunca. Podemos lidar com ela, aprendemos a lidar com ela, temos que enfrentá-la de frente, não adianta fugirmos dela. Ainda assim, o fato de sabermos que aqueles que deveriam ser os responsáveis pelos cuidados e pela saúde daquele nosso ente querido que está adoentado, hospitalizado, precisando de intensos cuidados mas que supostamente foram negligenciados por aqueles que deveriam zelar pelo seu bem estar. É o fantasma do erro médico,pelo qual muitos passam e geralmente ficam impunes aqueles que o cometeram, porque não temos uma “cultura” de penas e sanções adequadas para tais abusos. O que fazer quando nossa impotência por não termos o conhecimento adequado nos faz confiar em terceiros, verdadeiros estranhos de jaleco branco? Porque os casos de erro médico no país tem crescido tanto? Que tipo de formação acadêmica estão recebendo estes profissionais? Que tipo de formação pessoal, de caráter, de moral, de ética tais pessoas são formadas por suas famílias? Será que a única importância que dão à profissão é relativa ao status que “ser médico” ainda nos dias atuais carrega? Ou o fator preponderante é a perspectiva de bons salários recebidos nesta área? E as famílias que são devastadas pela perda de seus familiares, têm de ficar de mãos atadas, sofrerem caladas suas perdas e tentar tocar a vida adiante,  “liberando” estes profissionais do inconveniente de serem punidos com o rigor da a lei sobre suas imperícias? O que fazer num país onde a justiça caminha a passos de tartaruga? A quem recorrer? Que valor esta demanda tem para os políticos nas cidades brasileiras? Será que só quando as eleições se aproximam é o momento de falarmos no assunto para recebermos a mínima atenção?É mais um processo/aspecto da politicagem dos nossos municípios? Precisamos acabar com todas essas “culturazinhas” depreciativas do ser humano, todos os atos falhos, negligências, descasos, descompromisso,etc, que levam de nós aqueles a quem mais amamos sem nenhum tipo de punição às suas incompetências.Mal nos dizem sinto muito.Os direitos humanos têm realmente alcançado vitórias nunca antes vistas no mundo, mas com certeza isso ainda é só o começo das necessidades humanas.O momento do luto é inevitavelmente um momento avassalador, aquele desassossego que não tem nome, que nos prostra e fragiliza.Mas, mesmo assim, quando um pouco da mínima força chega, ao menor sinal da razão restabelecida, tentemos expor, esclarecer, mostrar, desmistificar, provar, divulgar, deixar claro que não podemos deixar impunes aqueles que nos faltaram com o menor sinal de respeito, ao tratar com incompetência e desimportância àqueles a quem mais amamos.Estamos em frangalhos, sim, o momento é de luto e consequentemente estamos mais vulneráveis, contudo, até mesmo pela importância e respeito que tínhamos por aquela pessoa, temos de trazer à tona esta questão espinhosa para chamarmos atenção da sociedade de que todos, TODOS os cidadãos têm direito à dignidade no tratamento hospitalar.

 

Por Cristine Souza