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Quem é Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde nomeado por Bolsonaro


Por: Foto: Marcos Oliveira / AGENCIA SENADO HANDOUT Publicado em: 16 de março de 2021


Num passado recente, o atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia defendeu a vacinação (“a principal aliada”), o isolamento social, um serviço público de saúde mais robusto e desaconselhou o recurso à cloroquina para combater a covid-19. Em entrevista à CNN Brasil, após a nomeação, Queiroga disse que o confinamento “não pode ser política de governo. Tem outros aspetos da economia para serem olhados”

Ludhmila Hajjar parecia ser a mais cotada para assumir a pasta da Saúde no Brasil, mas recusou por não haver “convergência técnica” entre ela e o Governo. Jair Bolsonaro optou então por Marcelo Queiroga, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. É o quarto ministro da Saúde brasileiro em 26 meses do mandato do atual Presidente.

De acordo com o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, é diretor do Serviço de Hemodinâmica e cardiologista intervencionista do Hospital da Unimed, em João Pessoa, e é médico intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa. Em 2019, foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O novo ministro da Saúde do Brasil – que sucede a Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e ao general Eduardo Pazuello – formou-se em Medicina na Universidade Federal da Paraíba, em 1988.

Apesar da proximidade com a família Bolsonaro, principalmente do senador Flávio Bolsonaro que o queria no cargo após a queda de Mandetta, Queiroga é defensor da vacinação contra a covid-19, “a principal aliada”. Mais: em maio, desaconselhou o recurso a cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina para combater o vírus que tem castigado o país. Num vídeo nas redes sociais, que remonta a março, defendeu o uso de máscaras para compor um lote de “medidas eficazes” para controlar a doença, recorda a “Veja”.

Em abril de 2020, conta ainda o “G1”, citando uma entrevista à GloboNews, Queiroga defendeu o isolamento social, que ajudaria a “reduzir aquele pico de pessoas que precisam de internação hospitalar”. O novo ministro da Saúde na altura defendeu também um Sistema Único de Saúde [equivalente a SNS] mais robusto: “Esse é o recado que esta pandemia traz para todos nós brasileiros”.

Apesar destes sinais contraditórios ou aparentemente contraditórios face à linha de atuação de Bolsonaro, Queiroga já havia colaborado com o atual Presidente aquando da vitória nas Presidenciais, em 2018, participando na equipa de transição de Governo, dando-lhes conselhos na área da Saúde. O “Jornal Nacional” recorda ainda que, embora Queiroga nunca tenha ocupado um cargo público, foi escolhido por Bolsonaro, em dezembro, para assumir uma das cinco cadeiras da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Em entrevista à CNN Brasil, depois da nomeação, Queiroga “equilibrou as palavras para não contrariar o novo chefe”, como escreveu o jornal “El País Brasil”, e referiu que o confinamento só deve ser utilizado em “situações extremas”. Ou seja, “não pode ser política de governo fazer lockdown. Tem outros aspetos da economia para serem olhados”.

DE MANDETTA AO GENERAL

No Twitter houve quem, perante a notícia da nomeação de um quarto ministro da Saúde brasileiro, tenha brincado com a situação gritando “É tetra!”, numa alusão ao Campeonato do Mundo vencido pelo Brasil em 1994, nos Estados Unidos, o quarto da sua história.

Queiroga sucede assim a três homens: Mandetta, Teich e Pazuello. O primeiro, um ortopedista, esteve no cargo entre 1 de janeiro de 2019 e 16 de abril de 2020. Em outubro, o Expresso entrevistou Mandetta, que descreveu Bolsonaro como um “Presidente de impulso”, negacionista, que revela raiva pelo “carteiro” que leva as más notícias. E disse mais: “a aposta política [de Bolsonaro] sacrificou o esforço da Saúde”. Mandetta, cujo ministério chegou a ter uma taxa de aprovação popular superior à do Presidente, saiu por divergência com o Executivo, o tema da cloroquina terá sido decisivo.

CORONAVÍRUS

Seguiu-se Nelson Teich, oncologista de profissão, que esteve no ministério entre 16 de abril de 2020 e 15 de maio de 2020. Nem um mês. Defendeu o isolamento social e chegou mesmo a propor o confinamento, algo que choca de frente com as ideias de Bolsonaro. “Teich estava isolado”, escreve o UOL, “não tendo sido sequer consultado quando o Governo Federal editou um decreto que ampliava as atividades consideradas essenciais para incluir academias e salões de beleza”.

Finalmente, o antecessor de Queiroga, o general Eduardo Pazuello liderou o Ministério da Saúde entre 15 de maio de 2020 e 15 de março de 2021. Foi nesta liderança que foi lançado finalmente, na ótica de Bolsonaro, o protocolo de tratamento da covid-19 que recomenda a utilização da cloroquina, conta ainda o UOL. “Um manda, outro obedece”, admitiu certa vez.

Depois do episódio da falta de oxigénio em Manaus, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal para investigar a conduta e eventual omissão de Pazuello. “O ministro sabia da escassez de oxigénio e não agiu para evitar que a situação se agravasse”, disse ao Expresso, no final de janeiro, Joyce Martins, doutorada em Ciência Política e mestre em Sociologia, desmentindo a versão de Pazuello, que falou num aumento de casos desconhecido.

E contextualizou: “Em vez disso, [Pazuello] preferiu propagandear um tratamento precoce da doença sem nenhuma comprovação científica, mas que convém à meta de reduzir o stock federal de cloroquina. Pazuello foi a Manaus entregar 120 mil doses do remédio porque, se o stock do Governo ficar encalhado, não apenas o ministro pode sofrer consequências graves, como também o Presidente e o próprio exército, que comprou insumos sem licitação e a preços acima do mercado para produzir os medicamentos a pedido do Presidente. Esta não é a primeira vez que a Justiça brasileira age devido a comportamentos do Governo federal diante desta crise. O Supremo também precisou de intervir para que estados e municípios tivessem autonomia diante do combate ao coronavírus, já que uma ação articulada com o Governo federal estava impossibilitada diante do negacionismo e da preocupação do Presidente somente com a Economia, que poderia custar-lhe a reeleição”.

Fontes do UOL sugerem que Bolsonaro não queria trocar o ministro da Saúde, há dias numa penosa fritura, mas a pressão de alguns deputados do centrão ditaram este desfecho.

Por Expresso