- Crédito da Foto: Aleksey Babushkin / Sputnik / AFP - Publicado em: 25 de junho de 2023
Crise começou com declarações duras do chefe do Grupo Wagner, formado por mercenários, escalou com uma denúncia de bombardeio e fez o mundo temer um conflito em plena capital Moscou.
O governo da Rússia viveu um de seus dias mais tensos desde o início da guerra na Ucrânia. E Vladimir Putin, a maior ameaça à sua liderança desde que chegou ao poder pela primeira vez, há mais de 20 anos.
Em cerca de 24 horas, o Grupo Wagner – uma organização russa de mercenários que luta na guerra da Ucrânia ao lado das tropas de Moscou – disse ter sido bombardeado por mísseis russos, organizou uma rebelião, tomou o controle de uma cidade e esteve a ponto provocar um conflito em Moscou.
As tensões entre o Grupo Wagner e o Kremlin não são novas – desde o ano passado, Prigozhin já vem criticando Moscou e mostrando sua insatisfação com aspectos como a falta do envio de armas e equipamentos para suas tropas, que lutam em várias frentes de batalha da Ucrânia ao lado da Rússia.
Mas os desdobramentos das últimas horas fizeram a tensão escalar e chegar muito perto de um conflito direto entre as duas tropas em plena capital russa.
Manhã de sexta-feira (23)
Depois de meses de cobranças e críticas ao Ministério da Defesa russo, Prigozhin decide subir o tom e chama a versão do Kremlin para a guerra na Ucrânia de “mentiras inventadas”. Acusa o ministro da pasta, Serguei Shoigu, de ter ludibriado Putin para a guerra.
“O Ministério da Defesa está tentando enganar a sociedade e o presidente e nos contar uma história sobre como houve uma agressão louca da Ucrânia e que eles planejavam nos atacar com toda a Otan (…) A guerra era necessária … para que Shoigu pudesse obter uma segunda medalha (…) A guerra não era necessária para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia (o principal argumento de Putin à época da invasão.”
Tarde de sexta-feira (23)
Cerca de cinco horas depois da dura declaração, o líder do Grupo Wagner volta a emitir um comunicado no qual acusa o Ministério de Defesa da Rússia de haver bombardeado com mísseis bases de sua organização na Ucrânia, matando vários combatentes. Ele promete retaliação.
Moscou nega o ataque.
Noite de sexta-feira (23)
Priogozhin anuncia uma ofensiva de seus soldados na Rússia. Parte das tropas do Grupo Wagner deixa suas bases na Ucrânia, cruza a fronteira com a Rússia e chega à cidade de Rostov-on-Dom, no sul do país.
Ele afirma que seus homens vão “destruir qualquer um que ficar no caminho”.
Em Rostov, os mercenários ocupam a sede das Forças Armadas e afirmam ter tomado a cidade. Eles dizem também haver derrubado um helicóptero russo.
O Kremlin não confirma, mas a segurança em Moscou é reforçada.
O FSB, o serviço de segurança russo, anuncia ter aberto um processo criminal contra Prigozhin por motim.
Madrugada de sábado (24)
Moscou eleva o alerta de segurança, colocando tanques nas ruas e milhares de militares. Os acessos à Praça Vermelha são fechados.
Prigozhin pede um encontro com o ministro da Defesa e com o chefe das Forças Armadas da Rússia e diz que, caso contrário, suas tropas entrarão na capital russa.
Manhã de sábado (24)
Vladimir Putin, que ainda não havia se manifestado desde o início da crise, faz pronunciamento à nação pela TV. Ele chama a rebelião de seu ex-amigo de “facada nas costas” e promete punir quem trair as Forças Armadas do país.
Prigozhin retruca, diz que não pretende fazer um golpe, mas lutar por Justiça. Ele diz que suas tropas chegaram a uma distância de 200 quilômetros de Moscou, já fortemente blindada.
Tarde de sábado (24)
Diante das tensões, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, um forte aliado de Putin, afirma ter intermediado uma negociação entre os dois lados, e que as partes chegaram a um acordo.
Pouco depois, Prigozhin, em uma mensagem de áudio, afirma que vai recuar e que ordenou a retirada de suas tropas perto de Moscou. Ele não confirma a negociação anunciada por Lukashenko mas diz querer evitar um “banho de sangue” na capital russa.
Na sequência, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirma o acordo intermediado por Belarus e diz que a Rússia vai retirar as acusações criminais contra Prigozhin e não perseguirá o agora ex-amigo de Putin nem os membros do Grupo Wagner que participaram da rebelião. Diz ainda que o líder dos mercenários será exilado em Belarus.
Noite de sábado (24)
Prigozhin é visto deixando Rostov em um carro, acompanhado de outros militares.
Tanques e tropas do Grupo Wagner deixam por completo a cidade do sul da Rússia, retornando para suas bases na Ucrânia, e ruas de Moscou são desbloqueadas.
Por g1