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Rússia diz ter usado mísseis hipersônicos na Ucrânia; entenda o poder de destruição


Publicado em: 19 de março de 2022


Esse tipo de míssil desafia todos os sistemas de defesa antiaérea; Rússia nunca havia informado sobre o uso deste míssil balístico em nenhum dos dois conflitos em que participa – Ucrânia e Síria.

 

Entenda o que é o míssil hipersônico, usado pela primeira vez pelos Russos contra a Ucrânia

Rússia intensificou no sábado (19) sua ofensiva na Ucrânia e diz ter usado, pela primeira vez, mísseis hipersônicos Kinzhal (vídeo acima). O ataque, de acordo a agência estatal Ria Novosti, teve o propósito de destruir um local de armazenamento de armas no oeste da Ucrânia. De acordo com o jornal The New York Times, um porta-voz do exército ucraniano confirmou o ataque ao depósito, mas não o tipo de míssil usado. A seguir, entenda por que os mísseis hipersônicos são considerados mais destrutivos e perigosos que mísseis comuns:

“Em 18 de março, o sistema de mísseis de aviação Kinzhal com mísseis aerobalísticos hipersônicos destruiu um grande armazém subterrâneo de mísseis e munição de aviação das tropas ucranianas na vila de Delyatyn, região de Ivano-Frankivsk”, disse o major-general Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa russo.

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky faz pronunciamento em 18 de março de 2022

Enquanto isso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que era hora de Moscou aceitar “conversar” seriamente sobre a paz. Zelensky considerou que “as negociações sobre paz e segurança na Ucrânia são a única oportunidade que a Rússia tem de minimizar os danos causados por seus próprios erros”.

“É hora de nos encontrarmos. É hora de conversar. É hora de restaurar a integridade territorial e a justiça para a Ucrânia”, reiterou o chefe de Estado em um vídeo filmado à noite em uma rua deserta de Kiev e postado no Facebook. “Caso contrário, as perdas para a Rússia serão tais que levará várias gerações para se recuperar”.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, Kiev e Moscou realizaram várias rodadas de negociações, pessoalmente e por videoconferência. A quarta começou na segunda-feira. O chefe da delegação russa falou, na noite de sexta-feira, sobre uma “conciliação” de posições sobre a questão de um status neutro para a Ucrânia – semelhante ao da Suécia e da Áustria – e avanços na desmilitarização do país. No entanto, ele também disse que há “nuances” para discutir sobre as “garantias de segurança” exigidas pela Ucrânia.

Mas um membro da delegação ucraniana, o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak, alertou que as “declarações do lado russo são apenas o começo de suas exigências”.

“Nossa posição não mudou: cessar-fogo, retirada das tropas (russas) e fortes garantias de segurança com fórmulas concretas”, tuitou.

Mariupol, “o inferno”

Carros com vidros estilhaçados, marcas de tiro e bandeiras brancas deixam Mariupol na quinta-feira (17).

O ministério da Defesa russo afirmou que destruiu centros de rádio e inteligência perto de Odessa, em Velikodolinske e Veliki Dalnik. A Ucrânia, por sua vez, admitiu neste sábado (19) que perdeu “temporariamente” o acesso ao Mar de Azov, apesar de a Rússia controlar de fato toda a costa desde o início de março e do cerco à cidade portuária estratégica de Mariupol.

Além disso, o Exército russo afirmou na sexta (18) que conseguiu entrar e lutar no centro da cidade ao lado de tropas da “república” separatista de Donetsk. Segundo o assessor do ministério do Interior ucraniano, Vadim Denisenko, citado pela agência Interfax-Ucrânia, a situação é “catastrófica” em Mariupol. “A luta acontece pela Azovstal”, uma grande siderúrgica nos arredores da cidade. “Uma das maiores siderúrgicas da Europa está sendo arruinada de fato”, lamentou.

As autoridades ucranianas acusaram também a Força Aérea russa de bombardear “deliberadamente” o teatro de Mariupol na quarta-feira, o que a Rússia negou. Em um abrigo antiaéreo sob este edifício havia “mais de mil” pessoas, principalmente “mulheres, crianças e idosos”, segundo a prefeitura deste porto do Mar de Azov.

Zelensky disse que mais de 130 sobreviventes foram retirados dos escombros. “Infelizmente, alguns sofreram ferimentos graves. Mas, neste momento, não temos informações sobre mortes”, declarou, explicando que “as operações de resgate continuam”.

As famílias que conseguiram fugir da cidade contaram que os cadáveres ficavam dias nas ruas e que à noite se refugiavam nos porões, com temperaturas abaixo de zero, fome e sede. “Não é mais Mariupol, é o inferno”, disse Tamara Kavunenko, de 58 anos. “As ruas estão cheias de cadáveres de civis”, acrescentou.

Segundo Zelensky, graças aos corredores humanitários estabelecidos no país, mais de 180.000 ucranianos conseguiram escapar dos combates, incluindo mais de 9.000 pessoas de Mariupol. “Mas os ocupantes continuam a bloquear a ajuda humanitária, especialmente em áreas sensíveis. É uma tática bem conhecida. (…) É um crime de guerra”, alertou.

Desde 24 de fevereiro, mais de 3,2 milhões de ucranianos partiram para o exílio, quase dois terços deles para a Polônia, às vezes apenas uma etapa antes de continuar seu êxodo.

Segundo contagem de 18 de março do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), ao menos 816 civis morreram no país e mais de 1.333 ficaram feridos. O organismos acredita, porém, que o número real seja superior.

Emergência humanitária

Refugiados deixam a Ucrânia pela fronteira da Moldávia

As necessidades humanitárias são “cada vez mais urgentes”, com mais de 200.000 pessoas sem água na região de Donetsk e “grave escassez” de alimentos, água e remédios, disse o porta-voz do ACNUR, Matthew Saltmarsh, na sexta-feira. O prefeito de Mikolaiv (sul) indicou no Facebook que várias cidades vizinhas já estavam ocupadas pelos russos e que sua cidade havia sido fortemente atacada. “O dia foi difícil”, lamentou Oleksandr Senkevich.

Segundo a mídia ucraniana, o Exército russo realizou um ataque em grande escala, matando pelo menos 40 soldados em seu quartel-general. Até agora, as autoridades ucranianas não ofereceram um balanço global de mortes no país.

Os bombardeios continuaram na sexta-feira em Kiev e Kharkiv (noroeste), a segunda maior cidade do país, onde pelo menos 500 pessoas foram mortas desde o início da guerra. A capital foi esvaziada de pelo menos metade de seus 3,5 milhões de habitantes. De acordo com a prefeitura, 222 pessoas morreram, incluindo 60 civis.

Quanto às baixas militares, Zelensky citou a morte de “cerca de 1.300” militares ucranianos em 12 de março, enquanto Moscou reportou quase 500 mortos em suas fileiras em 2 de março.

G1